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Mortes cercam caso Odebrecht na Colômbia

Folhapress | 14/11/18 - 21h32

Apenas três dias após a morte de Jorge Enrique Pizano, testemunha-chave do escândalo de corrupção envolvendo a empreiteira Odebrecht na Colômbia, seu filho foi encontrado morto envenenado, informou a Procuradoria do país na terça (13).

O arquiteto Alejandro Pizano, 31, morreu no domingo (11), horas após beber água de uma garrafa contaminada com cianureto que estava no escritório de seu pai, afirmaram os procuradores.

O jovem morava em Barcelona e estava em Bogotá para participar do funeral do seu pai. Sua mulher, grávida de seis meses, ficou na Espanha.

Pessoas próximas à família informaram à Procuradoria que após beber da garrafa, Alejandro disse que sentiu um gosto amargo e minutos depois apresentou uma forte dor estomacal, morrendo a caminho do hospital.

Com isso, foi reaberta a investigação da morte do pai, ocorrida na quinta (8) e inicialmente atribuída a um infarto –ele também sofria de câncer. Jorge denunciou o caso de corrupção na construção de uma estrada que envolve diversas autoridades, incluindo o atual procurador-geral.

Segundo a rede de TV britânica BBC, o corpo de Jorge foi cremado, mas foram coletados tecidos que serão analisados para tentar descobrir do que ele realmente morreu.

Em uma outra reviravolta, o canal de TV colombiano Noticias Uno exibiu na segunda (12) uma entrevista gravada em 2015 com Jorge que só deveria ser publicada quando ele morresse ou deixasse o país. A imprensa local afirmou que ele estava negociando para fornecer informações sobre o caso à Justiça americana em troca de proteção e poderia se mudar para os EUA.

O caso envolve a construção da segunda parte da rodovia Rota do Sol, que deveria ligar Bogotá à costa no Atlântico.

A Odebrecht é acusada de ter pago propina a agentes públicos para ser a única empresa habilitada para participar da licitação da obra, em um contrato de US$ 1,7 bilhão (R$ 6,4 bilhões) para construir mais de 500 km de estrada, segundo a agência Reuters.

No fim, a obra foi tocada por um consórcio em que a empresa brasileira tinha 62%, tendo como sócio o Grupo Aval, controlado pelo empresário Luis Carlos Sarmiento, o homem mais rico do país.

Jorge auditou as contas do consórcio e encontrou irregularidades –por isso, virou testemunha no caso.

Na entrevista publicada nesta segunda, ele afirmou que em agosto de 2015 procurou o então advogado Néstor Humberto Martínez, que prestava assessoria jurídica ao Grupo Aval, para avisar das irregularidades que tinha encontrado.

Jorge e Martínez eram amigos de infância, segundo o engenheiro, que queria que o advogado repassasse as denúncias a Sarmiento.

O problema é que desde 2016 Martínez é o procurador-geral do país, responsável por comandar a investigação do caso, e nunca tinha revelado ter recebido a denúncia.

Na conversa entre os dois, gravada por Jorge, o engenheiro afirmou ter encontrado um desfalque de 24 bilhões de pesos colombianos (R$ 28,8 milhões) nas contas do consórcio.

Na sequência, Martínez questionou se a verba teria sido usada para propina, mas Jorge afirmou que não conseguia confirmar isso.

Em nota divulgada nesta quarta (14) após a revelação do áudio, o procurador-geral disse que o engenheiro desconfiava que o dinheiro na verdade seria desviado para o pagamento de paramilitares.

No comunicado, Martínez afirmou que foi em sua gestão que a investigação do caso avançou e que foi confirmada que a verba era para propina.

Desde que o caso veio a público, no início de 2017, diversas pessoas foram detidas, entre elas o ex-vice-ministro dos Transportes, Gabriel García Morales (acusado de receber o equivalente a R$ 24,6 milhões) e o ex-congressista Otto Bula (R$ 17,45 milhões).

Na investigação que corre nos EUA sobre a corrupção da Odebrecht na América Latina, a própria empreiteira declarou ter pago US$ 11 milhões (R$ 41,7 milhões) em propina e caixa dois na Colômbia, mas não está claro quanto desse valor é relativo à estrada Rota do Sol e existe a desconfiança que o valor real seja maior.

Há ainda denúncias de caixa dois para a campanha de políticos, entre eles o ex-presidente Juan Manuel Santos (2010-2018), mas sem ligação direta com o caso da rodovia.

As investigações, porém, estão paradas porque o procurador encarregado do caso, Amparo Cerón, sofreu um acidente de trânsito durante as férias, passou vários dias na UTI e ainda está impedido de voltar ao caso.