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Não podemos só dar energia ao Brasil, diz candidato à Presidência paraguaia

20/04/18 - 15h07
Jorge Saenz/Associated Press


Em sua segunda corrida presidencial no Paraguai, o ex-deputado liberal Efraín Alegre coloca a mudança na tarifa de energia como seu principal diferencial para tentar vencer o colorado Mario Abdo Benítez, candidato do presidente Horacio Cartes.

À reportagem nesta quinta-feira (19), último dia de campanha no país, o opositor disse que a intenção é reforçar a infraestrutura para ter maior poder de barganha com Brasil e Argentina em relação às produções das usinas hidrelétricas de Itaipu e Yacyretá. Ele também critica o atual presidente, dono da maior indústria de tabaco paraguaia.
Apesar do tom bélico em relação aos vizinhos maiores, ele defende a cooperação como a única forma de combater o tráfico de drogas, o contrabando e o crime organizado na fronteira.
 
PERGUNTA - A partir dos debates, dos discursos e dos programas de campanha, pôde-se verificar que o senhor inclinou-se mais à direita, comparando com sua coalizão, enquanto seu adversário, Mario Abdo Benítez, guinou para o centro. Dessa forma suas propostas em alguns momentos aparecem mais próximas
EFRAÍN ALEGRE - Não, não por favor. Muito pelo contrário. Eles dizem que a energia no Paraguai é barata, eles dizem que é cara e que vamos reduzir as tarifas. Eles querem continuar a vender energia ao Brasil e à Argentina, nós dizemos que vamos usar nossa energia. Nós dissemos que temos que trabalhar pela saúde básica gratuita, e eles dizem que não podem. Eles dizem que vão mandar os jovens ao quartel, e nós vamos mandar aos colégios e às universidades.

P - Como o senhor vê a negociação com Brasil e Argentina pela energia das usinas de Itaipu e Yacyretá?
EA - Em primeiro lugar temos que ser capazes de usar nossa energia, porque se não concordamos com os dois, bom, trazemos a energia e usamos nós. Mas para isso precisamos ter a opção de trazer, porque se não tivermos não adianta negociar. A única alternativa que temos é ceder ou vender.

P - Mas para isso é preciso infraestrutura, que falta no Paraguai. Como o senhor planeja conseguir recursos para conseguir com que essa energia fique aqui?
EA - Temos os recursos para isso. E, por isso, somos muito diferentes ao continuísmo, eles reivindicam uma política entreguista. Nunca construíram a infraestrutura porque sua visão é simplesmente dar ao Brasil e à Argentina. Não que não existam os recursos. Com os US$ 140 milhões (R$ 474 milhões) dos fundos sociais de Itaipu e Yacyretá podemos fazer toda a infraestrutura que precisamos.

P - Nos últimos anos muitos empresários brasileiros vieram para cá devido à crise e começaram a investir, principalmente na área industrial. O que o senhor propõe para atrair mais investidores?
EA - Precisamos ser mais competitivos no que diz respeito à pressão tributária, recursos humanos e o preço da energia. Podemos dar como incentivos a energia barata, em troca de que se instalem e gerem empregos no Paraguai. Para isso também é muito importante ter segurança jurídica, por isso defendo a reforma judicial.

P - Ao comentar o combate ao crime organizado em seu programa de governo, o senhor não detalha como faria isso, em áreas como o tráfico de drogas, por exemplo. As quadrilhas brasileiras começam a entrar na região de fronteira. Como o senhor pretende enfrentar essa questão?
EA - Em relação ao tráfico de drogas e ao contrabando de cigarros, é preciso vontade política, um presidente que não esteja comprometido com essas questões e esses negócios. Nós também precisamos investir e redesenhar nossas forças de segurança. Hoje nossas Forças Armadas não têm capacidade operacional, não por culpa deles, mas por culpa do governo que as debilitaram gradualmente e sem equipamentos modernos. E precisamos chegar a acordos com o Brasil e a Argentina. Precisamos de um acordo comum para controlar a fronteira e para dividir o investimento para a segurança que precisamos todos nós.

P - O candidato a vice de sua chapa, Leo Rubin, da Frente Guasú, disse nesta semana que a Venezuela não tem uma ditadura, mas uma crise institucional. O Partido Liberal, no governo de Federico Franco, foi quem começou essa política contrária a Caracas. Como o senhor vê a situação no país?
EA - Primeiro, o Partido Liberal lutou historicamente contra qualquer abuso, violação de direitos humanos, tirania ou ditadura. Nisso com [o líder venezuelano, Nicolás] Maduro nunca nos entendemos nem vamos nos entender. Segundo, o governo que incorporou Maduro ao Mercosul foi o de Cartes, então não se preocupe com o que diga o vice-presidente, mas com o que fez esse governo. Nós nos opomos. E, terceiro, a política externa é controlada pelo presidente.

P - Embora Cartes tenha reconhecido a entrada da Venezuela no Mercosul, a Chancelaria paraguaia foi uma das mais ativas contra Maduro, antes inclusive de países maiores como Brasil e Argentina
EA - Esse é o modelo de Cartes. Eles são especialistas em criarem problemas para dizer depois que vão solucionar.

P - Alguns candidatos presidenciais brasileiros defendem o fortalecimento da fronteira, sugerindo inclusive barreiras físicas. Se eleito, como o senhor negociaria com um presidente como esse?
EA - Isso não me parece que responda à política de integração, mas até seria bom para os paraguaios em alguns aspectos. Se colocássemos uma muralha contra o crime organizado que o Brasil exporta, pelo menos no aspecto de segurança seria muito bom.