Contextualizando

No Dia da Mulher, presidente do CSA é destaque no "Estadão"

Em 8 de Março de 2025 às 11:20

Jornalista Ricardo Magatti, em "O Estado de São Paulo":

"Mirian Monte, de 45 anos, foi delegada de polícia, secretária de Cultura de Maceió e é analista da Justiça há 20 anos. Nada, porém, lhe desafiou mais do que o cargo atual que ocupa não por desejo, mas por um chamado: a presidência do CSA, time de maior torcedor de Alagoas e que hoje disputa a Série C do Campeonato Brasileiro.

'Cheguei aonde cheguei porque tudo que eu planejei deu errado', diz ela, citando um aforisma do escritor Rubem Alves. 'Eu realmente não tinha planejado ser presidente do CSA. Mas já que isso caiu no meu colo, eu vou ter que honrar essa missão. Foi mais um chamado. Não teve desejo, sendo muito franca'.

Até 2022, Mirian participava da vida do CSA apenas nas arquibancadas, como torcedora. O cenário começou a mudar naquele mesmo ano, depois de aceitar ser candidata ao conselho deliberativo. Foi eleita, ao lado de duas mulheres e 100 homens e começou a conquistar espaço.

Quando era vice-presidente e o então presidente Rafael Tenório, pressionado por uma sobreposição de crises, renunciou, Mirian decidiu assumir o clube. Ele a aconselhou a não seguir em frente, mas ela ignorou o conselho e administra o clube desde março de 2024 - seu mandato termina em 2027.

'Eu disse ‘eu fico’. Depois disso, foi uma confusão aqui em Maceió. Ouvi muitas vezes que ‘essa mulher não vai conseguir, não entende nada, é mulher, não tem experiência, não sabe nada de futebol', recorda-se.

'Respirei e perguntei: ‘o que é que a gente tem para receber? E o que é que tem aqui de dívida?’ Falei: ‘para de pagar tudo, vamos negociar aqui’. Assumi o clube, tinha R$ 1 milhão em caixa, no dia em que eu assumi, mas tinha R$ 1 milhão de folha para pagar, 500 mil de débitos vencidos e 400 mil de transfer ban, ou seja, entrei no mínimo aí com R$ 900 mil negativo no caixa. Agora, estamos fechando 2024 com superávit. É inacreditável', orgulha-se a presidente, que também é poeta, embora os compromissos profissionais tenham lhe afastado dos grupos literários.

Apenas outras duas mulheres - Leila Pereira, presidente do Palmeiras, e Marianna Libano, presidente da associação do Coritiba, comandam times entre as quatro divisões do Campeonato Brasileiro. A empresária e dirigente palmeirense é uma das referência de Mirian, que, nos momentos mais críticos da equipe, foi chamada de Leila da Shopee. em alusão aos recursos que não tem a presidente azulina em comparação à mandatária de um dos times mais ricos do País.

Ela encara com leveza o epíteto pejorativo. 'Quando a gente ganha sou a Leila do Nordeste, quando a gente perde sou a Leila da Shopee'.

Mas só o fato de ser comparada a Leila á é um motivo de de orgulho. Tem um abismo que nos separa em termos de divisão, de futebol, de estrutura, mas tenho certeza que o que ela passa eu passo também por ser mulher, não tenho dúvida. Com certeza, ela é cobrada muito mais que qualquer homem.

'Eu vejo as cobranças sendo feitas para os presidentes dos demais clubes da série A, que são feitas para Leila, não são as mesmas. Ela está quebrando muitos paradigmas. Hoje tem muitos homens que olham e dizem que pô: por que o futebol não é um lugar para mulher também, não é?', acrescenta.

Mirian nunca se encontrou com Leila. Enquanto o encontro não ocorre, ela quer ser referência para mulheres que busquem ocupar cargos de lideranças, no futebol ou em outros segmentos. O caminho está sendo pavimentado, mas ela já se considera, pelo trabalho que faz no CSA, um modelo para suas seguidoras, incluindo a própria filha, de 17 anos, que se sente mal quando vê a mãe sendo atacada nas redes sociais.

'Ela me pede para parar, diz que não gosta de abrir a internet e ver as pessoas me ofendendo, que não quer ver a mãe nesse meio vivendo isso. E eu disse: ‘Você, no futuro, vai agradecer a sua mãe, vai falar que bom que a minha mãe foi uma mulher que abriu portas para outras mulheres e para mim também'.

'Eu agradeço as mulheres que vieram antes, as mulheres que brigaram pelo direito de voto, as mulheres que brigaram pelo direito ao divórcio, as mulheres que brigaram pelo direito realmente de serem livres e independentes', discursa a alagoana, para quem as teorias feministas preconizam mais oportunidade para as mulheres.

Se de 1941 a 1979 as mulheres sequem podia jogar futebol profissionalmente no Brasil, hoje elas jogas e torcem. Representam, segundo Mirian, em média, 30% da torcida do CSA no estádio.

“As mulheres começam a dizer: 1poxa, eu tenho uma presidente, vamos lá', e os pais têm levado suas filhas ao estádio, ao contrário de 40 anos atrás, quando eu tive que chegar para o meu pai e dizer: ‘Pai, me leve’.

Mirian diz que o CSA, hoje líder do seu grupo na Copa do Nordeste e garantido na segunda fase da Copa do Brasil, não é mais insolvente financeiramente. O clube é saudável e fechou 2024 com superávit, afirma a presidente, que prometeu mostrar as contas em uma espécie de dia da transparência. A folha salarial é de R$ 700 mil mensais e as despesas totais do clube chegam a R$ 1 milhão.

Ela é favorável à transformação do CSA em SAF e prepara o clube para a chegada de investidores. 'A minha vontade é deixar o clube atualizado, pronto, é em situação de equilíbrio esportivo e financeiro, mas para ter um clube forte é preciso se atualizar, e aí vou deixar para a assembleia de sócios decidir', ressalta.

A estrutura, conta, é um dos atrativos para investidores que desejem injetar dinheiro futuramente no CSA, caso a agremiação realmente vire uma SAF.

“O centro de treinamento do CSA tem uma área de 180.000 m², são seis campos, e um desses campos está em posição estratégica para virar futuramente uma arena de 30 mil pessoas. Além disso, Maceió é uma das capitais mais procuradas do Brasil. O investidor que tiver bons olhos vai dizer: ‘Opa, vale a pena investir'."

Gostou? Compartilhe  

LEIA MAIS

+Lidas