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Papa aceita demissão de bispo suspeito de acobertar abusos

Folhapress | 17/05/19 - 23h06

O papa Francisco aceitou a renúncia do bispo brasileiro de Limeira (SP), monsenhor Vilson Dias de Oliveira, informou nesta sexta (17) a Santa Sé em um comunicado.

Dom Vilson é suspeito de tentar extorquir dinheiro de membros do clero (teria pedido, por exemplo, R$ 50 mil a um padre para colocar armários em casa), de aumentar seu patrimônio com recursos desviados da igreja e de acobertar o padre Pedro Leandro Ricardo, afastado da Basílica de Santo Antônio, em Americana (SP), após a Folha de S.Paulo revelar denúncias de abuso contra menores, em janeiro.

Suspeita-se que dom Vilson tenha feito vista grossa para os crimes do padre, que, em troca, silenciaria sobre as infrações do superior. Os dois negam as acusações.

Em carta de despedida, o bispo reconheceu suas "limitações", apontando que "nesses últimos meses enfrentamos todo tipo de cruzes, por meio de ataques à nossa Igreja Particular de Limeira, a mim e a vários presbíteros".

"Hoje me despeço de vocês como bispo diocesano e peço minha renúncia por amor à Igreja de Cristo e pelo bem desta diocese", escreveu.

Ao deixar de ser bispo diocesano de Limeira, dom Vilson não terá direito a moradia na diocese, mas seguirá recebendo um auxílio financeiro da igreja, cujo valor ainda será definido nos próximos dias.

Ele, de acordo com a igreja, passou a ser bispo emérito pela diocese de Limeira, como se fosse aposentado –situação semelhante à do papa Bento 16, que renunciou em 2013.

Dom Vilson, com isso, não perde a ordenação e poderá ser convidado por bispos para a celebração em quaisquer dioceses do país e participar de Crisma, por exemplo.

Como agora é bispo emérito vinculado à diocese em que atuava, é Limeira quem terá de pagar a "aposentadoria" do religioso, chamada de côngrua.

Dom Vilson é de Guaíra, município na região de Barretos, para onde já se deslocou, de acordo com a igreja. Futuramente serão estudadas eventuais atividades religiosas a serem desenvolvidas por ele.

Como bispo diocesano, o religioso foi o quinto a ocupar o cargo em Limeira –região composta por 16 municípios–, função que desempenhou nos últimos 12 anos.

Seu substituto interinamente, dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, já assumiu as funções administrativas na diocese, mas não pastorais. Ele também é o novo morador da residência episcopal, deixada pelo antecessor.

O padre Júlio Barbado, vigário geral da diocese de Limeira, publicou mensagem de acolhida a dom Orlando, em que diz que os fiéis precisam das orientações de um "bom pastor", para que não se esqueçam que a igreja necessita ser "orante, acolhedora, testemunha de fé, de esperança, de caridade e alegria".

Dom Orlando ficará no cargo até que o papa Francisco nomeie um novo bispo, o que a igreja estima que deve ocorrer em ao menos seis meses.

Dom Vilson e o padre Pedro Leandro também são alvo de ação do Ministério Público. A pedido da Promotoria, a Polícia Civil de Americana abriu um inquérito para investigar acusações contra os sacerdotes católicos.

Em janeiro, a Folha de S.Paulo conversou com quatro pessoas citadas no inquérito, entre supostas vítimas e seus parentes. Elas citaram cinco garotos que teriam sido alvo de Leandro em paróquias por que passou –entre avanços que não prosperaram e casos consentidos.

Em uma carta enviada por denunciantes à Cúria Romana, Dom Vilson é acusado de ser complacente com Leandro e remover padres que não estiverem dispostos a compactuar com seus pedidos de dinheiro para causas próprias.

Após as denúncias, padre Leandro foi suspenso "para dar continuidade ao processo de investigação", afirmou o advogado da Diocese de Limeira, Virgílio Ribeiro, em janeiro.

O processo está sob sigilo e corre "há algum tempo" internamente, afirma. "O bispo de Limeira jamais pactuou ou pactuaria com qualquer ato que confronta as leis que regem a Igreja", disse Ribeiro.