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Pessoas buscam comida pelas ruas, diz brasileira em Moçambique

Folhapress | 21/03/19 - 21h48

Dondo, em Moçambique, amanheceu com chuva nesta quinta (21). Como boa parte das casas da cidade está sem telhados, destruídos pela passagem do ciclone Idai, milhares de pessoas buscam onde se abrigar. Escolas e igrejas viraram centros de acolhida.

"As casas não tinham estrutura para aguentar uma tempestade desse tamanho, e o estrago foi muito grande", conta a missionária brasileira Noêmia Cessito, que atua no auxílio às vítimas em Dondo e mora no país há 35 anos.

"A cidade está destruída. As ruas tinham muitas árvores que caíram com o vento. Postes de energia também foram ao chão." Nas casas que não cederam, subir no telhado virou opção para se proteger das inundações.

Dondo tem 170 mil habitantes e fica a 35 km de Beira, cidade no litoral que foi duramente atingida pelo ciclone Idai na semana passada, que teve ventos de até 170 km/h.

Depois, o fenômeno rumou para o continente na direção do Zimbábue e de Maláui, derrubando edifícios e ameaçando as vidas de mais de 2 milhões de pessoas.

Além da falta de teto, as casas de Dondo começam a ficar sem comida, conta Noêmia.

"As chuvas encheram as barragens, que foram abertas e geraram enchentes que destruíram as estradas. Há buracos muito profundos nelas. Não dá para passar, então não chega água nem comida. As pessoas estão andando pelas ruas em busca de algo para comer", diz.

Noêmia faz parte da Junta de Missões Mundiais, organização ligada à Convenção Batista Brasileira, que atua com evangelização em cerca de 80 países. O grupo de Dondo teve a opção de sair da cidade, mas decidiu ficar para ajudar.

"Montamos um quartel-general de apoio e estamos dando abrigo para alguns adultos e crianças e servindo duas refeições diárias, cozinhando o que ainda temos", diz.

Em Maputo, capital de Moçambique, as doações estão sendo organizadas no porto por entidades e voluntários. Um navio está sendo preparado para levar a ajuda até Beira. A expectativa é encher 40 contêineres de suprimentos entregues por moradores e por organizações.

"Muita gente foi ajudar a preparar os kits, encaixotar e carregar o material para os contêineres", conta o designer gráfico brasileiro Marcos Drummond, que mora em Maputo e colaborou como voluntário.

"Maputo tem muitos expatriados, como uma comunidade francesa, uma americana, uma muçulmana e igrejas neopentecostais brasileiras. Todas essas pessoas estão se dedicando a enviar ajuda para as áreas atingidas", diz.

Nesta quinta, agentes de resgate ampliaram a busca de sobreviventes. O saldo de mortes no país subiu para 217, e cerca de 15 mil pessoas, muitas delas doentes, ainda precisam ser resgatadas, disse o ministro da Terra e do Meio Ambiente, Celso Correia.

Os agentes de resgate continuam encontrando corpos, e o número de mortes pode aumentar bastante. Durante o dia, helicópteros transportaram pessoas, algumas retiradas dos tetos de casas e de topos de árvores, para a cidade de Beira, onde funciona o principal quartel-general da operação de resgate.

Uma idosa estava sentada no local, atordoada, perto de dois de seus netos. Os três estavam ilesos, mas as crianças perderam a mãe.

Um helicóptero resgatou quatro crianças e duas mulheres que estavam num pequeno estádio de futebol em um vilarejo quase todo submerso. Um menino pequeno, com uma perna quebrada, estava sozinho e dava sinais de exaustão quando os agentes o deitaram na grama antes de levá-lo a uma ambulância.

Agora que o nível da água começa a baixar, a prioridade é levar alimentos e outros suprimentos às pessoas em vez de retirá-las das áreas afetadas, embora isso também esteja sendo feito, disse Correia. Cerca de 3.000 pessoas foram resgatadas até agora.

Estima-se que 56 pessoas tenham morrido no Maláui e 139 no Zimbábue. O Programa Mundial de Alimentos da ONU, que está coordenando a entrega de comida na região, disse que 200 mil pessoas no Zimbábue precisarão de assistência alimentar urgente três meses.