Brasil

Polícia investiga se Monique e Jairinho demoraram 39 minutos para socorrer Henry no dia da morte

G1 | 12/04/21 - 14h30
Futura Press / Folhapress

A Polícia Civil está investigando se o menino Henry Borel demorou 39 minutos para ser socorrido pela mãe, Monique Medeiros, e pelo padrasto, o vereador Dr. Jairinho (sem partido), após a sessão de tortura que terminou com a morte da criança. As informações são do G1. 

A última imagem do menino, de 4 anos, foi feita às 4h09 do dia 8 de março, no elevador do prédio, a caminho do hospital. Nela, segundo o laudo da perícia, o garoto já está morto.

Em depoimento na delegacia da Barra da Tijuca, Monique Medeiros disse que acordou no quarto de hóspedes, por volta de 3h30, quando viu a TV ligada e Jairinho dormindo ao seu lado.

Em seguida, ela disse que foi até o quarto do casal e encontrou o filho caído no chão.

Ainda de acordo com Monique, Henry teria sido embrulhado e levado às pressas para o hospital.

Mas, de acordo com as imagens do elevador, entre o momento em que ela acordou e a saída do apartamento, passaram-se 39 minutos.

A foto está em um laudo da Polícia Civil que faz parte do inquérito. E prova, para a polícia, que o menino foi assassinado dentro do imóvel.

“Eles [os peritos] conseguiram congelar essas imagens e viram que, pelo modo que ele estava, pelo rosto dele, que ele já estava morto naquele momento”, diz a perita criminal Denise Gonçalves Rivera.

Agressões frequentes

Um trecho da conversa entre Monique e Thayná de Oliveira Ferreira, babá da criança, que descrevia em tempo real uma suposta sessão de tortura praticada por Dr. Jairinho, mostra que as agressões eram frequentes.

“Então, [Henry] me contou que [Jairinho] deu uma banda [uma rasteira] e chutou ele, que toda vez faz isso”, disse a babá, na tarde de 12 de fevereiro.

“Falou que não pode contar, que tem que obedecer ele, senão vai pegar ele”, emendou Thayná.

A babá relatou ainda a Monique que Henry estava mancando e que ele reclamou de dores na cabeça. Ela também sugeriu à mãe dele um "plano de fuga" para evitar episódios como aquele (leia abaixo).

No dia seguinte à troca de mensagens, Monique levou Henry a um hospital em Bangu e alegou aos médicos que o filho tinha caído da cama.

Os prints dos diálogos de WhatsApp haviam sido apagados da galeria do telefone de Monique, mas a polícia conseguiu recuperar o conteúdo graças a um software israelense chamado Cellebrite Premium.

'Rota de fuga'

O trecho destacado pela polícia vai das 16h30 às 18h03 de 12 de fevereiro. Nas primeiras mensagens, Henry está trancado com o padrasto na suíte do casal. Às 16h33, Thayná relata que Jairinho abriu a porta do quarto, e Henry vai para o colo dela.

Monique tenta detalhes, mas Thayná avisa que Jairinho rondava pela sala, "prestando atenção" no que estavam fazendo.

Às 17h, o vereador liga para a namorada, dizendo que tinha acabado de chegar em casa. "Pô, já chegou [tem] um tempão", ressalta Thayná. "Estranho demais, responde Monique.

Às 17h03, Jairinho sai de casa, e Henry finalmente relata o ocorrido meia hora antes.

Thayná sugere à patroa uma "rota de fuga" para evitar novas agressões.

“Combinei com ele agora: toda vez que Jairinho chegar e você [Monique] não tiver, eu vou chamar ele para a brinquedoteca, e ele vai aceitar ir”, escreveu a babá.

“Porque estou aqui para proteger ele. Aí eu disse: ‘Se você confia na tia, me dá um abração. Aí ele me deu.”

Monique conversou com prima pediatra sobre o filho

Cinco dias depois de levar Henry ao hospital em Bangu, Monique conversou sobre o filho com uma prima pediatra.

A troca de mensagens foi publicada nesta segunda-feira (12), no jornal O Globo.

A conversa foi encontrada num dos telefones da mãe de Henry que foram apreendidos durante a investigação.

O RJ1 teve acesso aos prints das mensagens.

No dia 18 de fevereiro, Monique relata para a pediatra, identificada como Renata:

"Henry está com medo excessivo de tudo, tem um medo intenso de perder os avós, está tendo um sofrimento significativo e prejuízos importantes nas relações sociais, influenciando no rendimento escolar e na dinâmica familiar".

A professora afirma que o menino teria dito que queria que a mãe fosse para o céu, para morar com os avós, em Bangu.

Monique também diz: "quando vê Jairinho, ele chega a vomitar e tremer".

E conta que Henry fala que está com sono, quer dormir e não olha para Jairinho.

A mãe do menino também relata que Henry nunca dormiu sozinho, mas que antes ficava no quarto esperando Monique e Jairinho irem ao banheiro, ou levarem um lanche, mas que agora se recusa a ficar sozinho, está sempre prostrado, olhando para baixo.

Além de ter noites inquietas, com muitos pesadelos e acordando o tempo inteiro, segundo Monique.

Ela também diz: "chora o dia todo".

A mãe de Henry continua: "iniciei com a psicóloga, fizemos duas sessões, uma por semana".

E pergunta: "você acha que preciso procurar um neuro, um psiquiatra, fazer mais sessões por semana?".

Monique diz: "tem sido muito sofrido, pra todos nós".

A pediatra prima de Monique responde:

"Acho que agora no início poderia ser duas vezes na semana. Neuro e psiquiatra não. Infelizmente isso é comum".

Até agora - mais de um mês depois da morte do menino e quase dois meses após essa troca de mensagens -, a pediatra ainda não foi chamada para prestar depoimento.

A polícia avalia a intimação dela.

23 lesões por ação violenta

O laudo da reconstituição da morte do menino Henry Borel, que o Fantástico deste domingo (11) mostrou com exclusividade, descartou “a possibilidade de um acidente doméstico (queda)”, a exemplo do que já tinha apontado a necropsia do corpo do garoto.

Os peritos afirmaram que as 23 lesões encontradas em Henry “apresentavam características condizentes com aquelas produzidas mediante ação violenta (homicídio)”. Entre essas lesões, estão, por exemplo, a laceração no fígado, danos nos rins e a hemorragia na cabeça.

Na última quinta-feira (8), foram presos o vereador carioca Dr. Jairinho (Solidariedade), padrasto da criança, e Monique Medeiros, mãe do garoto. A prisão se deu pela suspeita de homicídio duplamente qualificado –com emprego de tortura e sem chance de defesa para a vítima –, por atrapalhar as investigações e por ameaçar testemunhas para combinar versões.

A reprodução simulada do dia da morte do menino foi feita no dia 1º de abril. Policiais civis e peritos testaram todas as possibilidades de queda no quarto — como sustentaram o vereador carioca Dr. Jairinho (sem partido) e a professora Monique Medeiros, padrasto e mãe de Henry, em depoimento à polícia.

“Não há a menor hipótese de ele ter caído, quer seja da cama, quer seja da poltrona, quer de uma estante, que tem 1,20 metro de altura”, afirmou Denise Gonçalves Rivera, perita criminal da Polícia Civil do RJ.

“Fizeram todas as medições e viram que, em nenhuma dessas circunstâncias, ele teria essas lesões que a necropsia apresentou”, emendou.

Ainda segundo o laudo da reprodução, há lesões de baixa e de alta energia, provenientes de ações violentas entre 23h30 e 3h30. No depoimento, a mãe afirmou que o filho acordou três vezes com o barulho da televisão da sala, onde Monique e Jairinho assistiam a uma série.

"É possível que Henry tenha sido agredido cada vez que ele ia reclamar", disse Denise.