Nordeste

"Precisamos dar apoio umas às outras", diz pesquisadora sobre artigo que faz tributo às cientistas

UFMA | 23/02/20 - 11h24

Muito precisa ser discutido sobre a equidade de gênero na ciência. No dia 11 de fevereiro de 2015, foi instituído, pela Assembleia das Nações Unidas, o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. É nessa atmosfera de luta e visibilidade feminina que as pesquisadoras Ana Rita Nunes (UFMA) e Natascha Wosnick (UFPR) produziram um artigo que será publicado internacionalmente, valorizando as cientistas brasileiras.

O artigo Women in Amazonia Elasmobranch Research: A Tribute To The Brazilian Researchers será publicado em edição especial do Congresso Internacional de Tubarões e Raias do Litoral Amazônico e é um tributo às mulheres na ciência, trazendo uma lista de quinze cientistas que se engajaram na pesquisa de elasmobrânquios na região amazônica e dedicaram suas carreiras à pesquisa e conservação de tubarões e raias.

“A gente precisa falar e combater essas exclusões no meio científico e homenagear algumas mulheres, além de incentivar as meninas que estão ingressando agora na ciência a não desistirem, pois o caminho não é fácil, mas é possível, sim, sermos reconhecidas pelo nosso legado na ciência. É necessário que uma dê apoio às outras”, disse a pesquisadora-colaboradora da UFMA, prestes a ser a mais nova doutoranda da Universidade, Ana Rita.

Segundo o Instituto de Estatísticas da UNESCO, apenas 28% dos pesquisadores do mundo são mulheres. Elas continuam sub-representadas nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), tanto no âmbito da graduação quanto no das pesquisas.

Para a pesquisadora Natascha, que, desde pequena, criou afeição por bichos e apaixonou-se pela área de fisiologia animal na graduação, no curso de Biologia, revelou que o maior desafio na ciência para uma mulher é se destacar pelos mesmos méritos que um homem.

“Geralmente, o que consigo observar na nossa área é que, por mais que a mulher desenvolva pesquisas com tubarões, como o caso da Rosângela Lessa ou Patrícia Charvet, mulheres que homenageamos no artigo, elas nunca são o primeiro nome que vem à cabeça. Sempre vem o nome de um homem, quando o assunto é estudos com tubarões no Brasil”, contou.

Essa problemática, segundo a pesquisadora, se dá devido ao senso comum de acharem que pesquisa com tubarões é coisa de homem; e com raias, de mulheres. “Não é só na mídia ou com pesquisadores de outros países que esse entendimento existe, nós percebemos em Congressos, em que todos os pesquisadores internacionais conheciam, apenas, os homens. Ficou claro que, apesar de haver mulheres trabalhando com tubarões, a referência é o homem. Por isso a relevância desse artigo, para divulgar o trabalho das pesquisadoras com o intuito de deixar a ciência menos polarizada”, frisou.

No ambiente de trabalho, um dos maiores obstáculos que Natascha Wosnick enfrentou foi provar seu valor como cientista.

“A gente sempre tem que provar que é boa o suficiente para atingir posições ou níveis salariais iguais ao de um homem. O desafio maior em pesquisa com raias e tubarões é se estabelecer com uma referência e competir no mesmo nível, no Brasil, com homens que têm destaque”, confessou.