Tentativa de homicídio contra ex-prefeito alagoano de cidade de SP foi forjada, concluem PC e MP

Publicado em 17/02/2025, às 17h28
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Por TNH1 com g1 SP

A tentativa de homicídio contra o alagoano José Aprigio (Podemos), então prefeito de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, foi forjada, de acordo com a conclusão da Polícia Civil e o Ministério Público (MP). O caso aconteceu durante campanha eleitoral no ano passado e a informação foi confirmada pela reportagem do g1 SP nesta segunda-feira (17).

Candidato à reeleição, Aprigio foi baleado e ferido no ombro esquerdo por um tiro de fuzil disparado de um veículo, no dia 18 de outubro de 2024, entre os dois turnos da eleição municipal. A bala perfurou o carro blindado do político e os executores fugiram pela Avenida Aprígio Bezerra da Silva, que leva o nome do pai dele. Seu motorista, um secretário e um fotógrafo estavam juntos, mas não foram atingidos. Seis disparos furaram a lataria e o vidro do automóvel.

No entanto, de acordo com as autoridades, o ataque a tiros foi uma simulação combinada para dar a impressão de que o então prefeito tinha sofrido um atentado. Ele não conseguiu se reeleger ao cargo. Procurada para comentar o assunto, a defesa alegou inocência.

"Ele ficou muito surpreso com a informação de que foi algo forjado aí. Vocês têm que analisar de uma forma que, se o crime existiu de forma a ser forjada, ele sofreu um tiro de um armamento pesado. Então, a vida dele naquele momento foi comprometida", contou Allan Mohamed, advogado de Aprigio, em resposta à TV Globo.

Segundo ele, o ex-prefeito "está seguro tranquilo". "Nós temos que deixar claro aqui que ele é a vítima", continuou o advogado. "O prefeito é vítima, foi vítima de um atentado contra sua vida". Aprigio não foi encontrado para comentar o assunto.

Operação

Ao menos nove pessoas, sendo três secretários de Aprigio à época, estão envolvidos diretamente no falso ataque a tiros, segundo a polícia e o MP. O próprio político é investigado por suspeita de participar do plano.

Uma operação da Delegacia Seccional e da Promotoria da cidade, batizada de "Operação Fato Oculto", foi realizada nesta segunda para tentar prender alguns dos envolvidos na fraude.

O caso é apurado como tentativa de homicídio, incêndio e adulteração de veículo. "Os demais ocupantes do veículo oficial foram expostos a risco concreto de morte em razão dos disparos de fuzis", diz um dos trechos da polícia sobre o caso.

De acordo com a investigação, o objetivo da simulação era fazer com que Aprigio sensibilizasse os eleitores para votarem nele e, assim, derrotar seu adversário no segundo turno, candidato Engenheiro Daniel (União Brasil).

"O conjunto probatório carreado mostra-se hígido em comprovar que não houve tentativa de homicídio contra o prefeito José Aprígio, nos termos por ele descrito, mas um embuste voltado a reverter a vontade dos eleitores de Taboão da Serra, legitimamente expressada nas urnas", informa o relatório policial.

Vídeos gravados pela comitiva de Aprigio o mostravam sangrando no carro. Depois, foram feitas postagens do prefeito no hospital contando que havia fraturado a clavícula. Todas as imagens foram postadas nas redes sociais do político e acabaram viralizando.

Mesmo assim, Aprigio não conseguiu se reeleger e perdeu a disputa para Daniel.

Nove investigados pela farsa

Segundo a investigação, José Vanderlei Santos (que era secretário de Transportes), Ricardo Rezende Garcia (que foi secretário de Obras), e Valdemar Aprígio da Silva (então secretário de Manutenção e irmão do prefeito), planejaram a simulação de um atentado político a Aprígio. Valdemar foi preso na operação desta segunda, mas por porte ilegal de arma.

Eles ainda tiveram a ajuda do sobrinho do prefeito Cristian Lima Silva, que já havia sido investigado pela polícia em Alagoas por ter forjado um ataque contra si mesmo em 2020.

De acordo com as autoridades, em 2024, os secretários de Aprigio fizeram contato com dois homens, Anderson da Silva Moura, o "Gordão", e Clovis Reis de Oliveira, para que eles contratassem atiradores para executarem o plano. Anderson foi preso nesta segunda pela polícia e Clovis continua foragido.

Ainda segundo a investigação, Anderson e Clovis contrataram Gilmar de Jesus Santos, o atirador, e Odair Júnior de Santana, que dirigiu o veículo que emparelhou com o carro de Aprigio.

A arma usada na fraude, um fuzil AK-47, foi comprado por R$ 85 mil. E os executores receberam R$ 500 mil, no total, para simularem o ataque.

Gilmar foi preso pela polícia em 2024 durante a investigação. Odair e Jefferson Ferreira de Souza, que ajudou a dupla na fuga, colocando fogo no automóvel que usaram, estão foragidos e também são procurados.

A polícia e a Promotoria apreenderam armas nos endereços de alguns dos investigados, mas o fuzil usado na farsa ainda não foi encontrado.

As autoridades chegaram a pedir as prisões dos três secretários e do sobrinho de Aprigio, mas a Justiça não concordou. E só autorizou fazerem buscas e apreensões nos imóveis dos investigados e de pessoas ligadas a eles. Na casa de Aprigio, por exemplo, foram encontrados e apreendidos R$ 320 mil em dinheiro.

O que dizem os citados

Diante da conclusão da investigação, a hipótese de que Aprígio foi vítima de um atentado político acabou descartada. A equipe de reportagem tenta contatar todos os citados para comentarem o assunto.

Procurado pela reportagem, Daniel, atual prefeito de Taboão, comentou a conclusão das investigações sobre o ataque a Aprigio. Ele disse que chegou a ser considerado suspeito por algumas pessoas como alguém que poderia estar envolvido na tentativa de homicídio.

"Na verdade, para mim, não foi nenhuma surpresa. O que eu fico feliz é que a polícia tem feito um trabalho com seriedade nesse caso para desvendar. Para mim foi muito complicado... e não afetou somente o meu lado político, mas o meu lado pessoal", disse Daniel, atual prefeito de Taboão. "Mas eu fico feliz com o desfecho desse caso. Só espero que a Justiça seja feita e que os verdadeiros culpados por esse caso vão parar na cadeia".

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