Brasil

Tragédia em Petrópolis: escola perdeu sete alunos nas chuvas

Extra Online | 05/03/22 - 18h30
Divulgação

Na próxima segunda-feira, cerca de 40 mil estudantes da rede municipal de ensino de Petrópolis voltam às aulas. No temporal do último dia 15 de fevereiro, oito alunos da Escola Municipal Vereador José Fernandes da Silva, no bairro do Alto da Serra, perderam a vida. Sete deles foram soterrados por deslizamentos em suas casas. Só Evelyn Luiza Netto da Silva, de 11 anos, morreu no próprio colégio.

Na tarde daquela terça-feira, Evelyn estava em seu segundo dia de aula. Dentro da unidade, se dirigiu para a sala do 6º ano do ensino fundamental, no primeiro andar. No dia da tragédia, a escola foi cenário de uma das muitas imagens impressionantes produzidas na cidade: um vídeo mostrou as crianças deixando o local sujas de lama, indo em direção ao pronto-socorro logo ao lado. A escola fica em uma das faces do Morro da Oficina, o lugar da cidade mais afetado pela catástrofe.

O deslizamento que atingiu a escola destruiu completamente o pátio traseiro, onde ficava uma quadra de esportes. Lama e escombros avançaram e chegaram aos fundos do prédio, onde ficavam as salas de aula. Em duas delas, no primeiro andar, o impacto foi maior. Na hora da tragédia, crianças ficaram presas com lama até a cintura, o que não foi o caso de Evelyn. A menina conseguiu escapulir, mas, em busca de alguma proteção, foi atingida por uma parede que desabou com o peso do entulho.

O medo da volta

Quem passa pela frente da Escola Municipal Vereador José Fernandes da Silva, na Rua Teresa, vê a fachada intacta. Mas é só a fachada. Além do cenário de destruição, há a lembrança do sofrimento, das perdas, na cidade e ali mesmo. Professores e funcionários ainda não conseguem imaginar um retorno à rotina no endereço, que segue interditado. Os alunos e a equipe serão realocados para outras unidades da rede.

— Perdemos sete alunos em casa, crianças que estudaram de manhã e foram para suas casas. Então a gente pensa, e se esses tivessem ficado na escola, e se os 120 que estavam aqui não tivessem aula e estivessem em casa? O que teria acontecido? É devastador, a gente está tão acostumada com a rotina de chegar e ver todos aqueles sorrisos, como pensar que alguns não serão mais vistos? — pergunta a diretora e professora Luciane Fernandes.

— Durante a chuva, quando o Centro começou a encher, os pais entraram em contato de forma desesperada, mas enquanto estávamos aqui não deixamos as crianças saírem. Uma funcionária escreveu para o pais ficarem tranquilos. Acreditamos que estivéssemos protegidos dentro da escola. Antes do último momento, me recordo de ter subido com outro diretor e passado nas salas para ver quem queria jantar antes de ir para casa. No que eu desci a escada, vimos a água da chuva descer e de repente veio aquele ‘bum’. Parecia uma onda do mar, só que preta, saiu arrastando todo mundo. Eu fui levada, uma merendeira puxou meu braço e me tirou. Nisso, a maioria correu para o pronto-socorro ao lado, e foi essa imagem que viralizou na internet — lembra a diretora.

A avalanche que veio morro abaixo praticamente destruiu a escola, mas o prédio não foi condenado pela Defesa Civil.

— Nós tínhamos aqui 450 alunos, entre educação infantil e de jovens e adultos, todos adoráveis, tínhamos uma equipe forte, muito boa e que ama fazer este trabalho, mas que está muito abalada. A escola, a gente pode reconstruir em outro lugar. O que nós lamentamos mesmo é pela Evelyn e por todos que perdemos — conclui Luciane Fernandes.

Indignação da família

Padrasto de Evelyn, Elizier Manoel Silveira não se conforma com a maneira como soube do falecimento da menina, que criou desde pequena e considera como uma filha. Segundo ele, um pai de outra aluna disse que uma menina com as características de Evelyn havia morrido dentro da escola. Foi o início de um martírio.

— O diretor (adjunto) mandou mensagem no grupo de WhatsApp dos pais, dizendo que poderiam ficar tranquilos, que todas as crianças estavam em segurança. Eu saí de carro para ir à escola, muitas barreiras tinham caído, fiquei preso no meio do caminho e resolvi ir a pé, quando um amigo, que também é pai de aluno, e tinha passado na escola, me parou e disse que tinha um óbito e as características eram da minha filha. Saí desesperado e, quando cheguei, um porteiro me encaminhou para o pronto-socorro e três lugares diferentes, onde ela não estava — lembra o padrasto.

O tormento continuou:

— Depois de muito tempo, voltei à escola e abordei uma orientadora já exaltado. Quando viram que eu estava nervoso, o diretor me chamou de volta para o pronto-socorro e me levaram até uma médica. Reparei que todos me olhavam e uma pessoa comentou baixo que deviam me falar logo a verdade e acabar com o sofrimento. Depois disso, me chamaram para ver o corpo da menina.

Luciane Fernandes lembra que aquele era o segundo dia de aulas na escola:

— A gente ainda conhecia pouco as crianças. Eram 120 em três locais diferentes. Eu entendo a indignação e a raiva dos pais. Todos aqui entraram na lama para ajudar, diretores, inspetores, muita gente ficou presa, se soltou e foi ajudar. Teve muita gente do comércio e arredores que ajudou também. Foi tudo muito rápido, e no pronto-socorro vinha muita gente e crianças do deslizamento no Morro da Oficina, então era difícil identificar logo quem era da escola e quem veio de outros locais.

Em nota, “a direção da Escola Municipal Vereador José Fernandes da Silva afirma que todas as vítimas foram socorridas e resgatadas, inclusive Evelyn, e levadas para o pronto-socorro do Alto da Serra”.