Política

'Bolsonaro está apaixonado pela reforma da Previdência? Claro que não', diz Guedes

Marina Dias/Folhapress | 11/04/19 - 16h00
EBC

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quinta-feira (11) que o presidente Jair Bolsonaro "não está apaixonado" pela reforma da Previdência, mas sabe que a medida é necessária para o equilíbrio das contas públicas e vai apoiá-la. Segundo as projeções do ministro, a aprovação do texto deve acontecer até o início de julho.

"É de coração? Ele [Bolsonaro] está apaixonado pela reforma? Claro que não", afirmou Guedes durante evento no centro de pesquisas Brookings Institute, em Washington.

"Mas o presidente tem algumas qualidades: é transparente, resiliente, dá suporte a coisas com as quais não concorda, mas sabe que são necessárias", completou o ministro ao lembrar que Bolsonaro, quando deputado, votou diversas vezes contra mudanças no sistema de aposentadoria.

"Bolsonaro brinca e fala: 'por mim, as mulheres poderiam se aposentar com 20 anos. Eu acho que elas merecem'. É só uma piada, mas é como ele se sente sobre a reforma".

Atualmente, a idade mínima para que mulheres se aposentem é de 60 anos, enquanto homens precisam ter 65 para pararem de trabalhar. A reforma do atual governo, porém, propõe que essa diferença caia para três anos: 62 para elas e 65 para eles.

Durante evento em Washington, Guedes falou a uma plateia de economistas, investidores e representantes de organizações internacionais e pediu que eles não sintam pena ou preocupação em relação ao Brasil.

"Não sintam preocupação, não sintam pena, não sintam tristeza [...] Não há perigo, não há ameaça à democracia. Temos um governo de centro-direita e estamos avançando".

Ele citou os processos de impeachment contra os ex-presidentes Fernando Collor, em 1992, e Dilma Rousseff, em 2016, para dizer que as instituições brasileiras funcionaram em governos de direita e de esquerda.

Com dificuldade de articulação no Congresso para aprovar a reforma da Previdência, Guedes afirmou esperar o aval do Legislativo para o texto no início de julho e admitiu cifras entre R$ 600 milhões a R$ 800 milhões de economia em 10 anos se a medida por aprovada. O projeto inicial do governo previa R$ 1 trilhão e Guedes, em um primeiro momento, não cedia a qualquer tipo de flexibilização.

"Deve ser antes do fim do primeiro semestre, 1 de julho, por aí", respondeu o ministro ao ser questionado sobre uma data para o ok do Congresso.

Guedes disse que o valor era o divulgado pela imprensa tradicional e que, "mesmo que ela esteja certa desta vez, porque na eleição de Bolsonaro não estava", já seria uma economia maior do que a seria alcançada pela proposta do governo de Michel Temer, por exemplo, que parou no Congresso.

Na semana passada, o ministro foi protagonista de uma discussão na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara quando explicava o projeto a parlamentares. Depois da confusão, em que reagiu aos gritos ao ser chamado de "tchutchuca e tigrão" pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR), a sessão foi suspensa.

Nesta quinta, Guedes voltou a afirmar que sua política econômica está baseada em abertura de mercado, reforma da Previdência, privatizações, e redução e simplificação de impostos.

Sobre a reforma tributária, disse que os parlamentares vão aprová-la "não porque me amam, mas porque precisam".

"Eu queria fazer o que [a ex-primeira-ministra do Reino Unido] Margaret Thatcher fez na Inglaterra e o que os Chicago's Boys fizeram no Chile", afirmou ao comentar medidas fiscais tomadas em outros países.

Essa é a segunda vez que Guedes afirma nos EUA que não há ameaça à democracia no país. Seu primeiro discurso da semana, nesta quarta-feira (10) em Nova York, também teve esse caráter.

Bolsonaro esteve na capital americana em março para encontro com o presidente Donald Trump e cumpriu agenda somente com pessoas alinhadas a seu pensamento ideológico conservador.

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, viajou aos EUA na semana passada para compromissos mais plurais, como reunião com pensadores de esquerda e imigrantes brasileiros, além de uma conversa com o vice dos EUA, Mike Pence.