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Criminosos enfrentam PM por duas horas no interior de SP em roubo a agência bancária

Folhapress | 30/07/20 - 17h34
Divulgação / Polícia Militar

Em uma das mais audaciosas ações criminosas vistas em solo paulista, um grupo de bandidos armados de fuzis e metralhadoras conseguiu enfrentar por mais de duas horas as forças de segurança de São Paulo, entre elas unidades de elite da Polícia Militar, como Rota, Gate, Coe e Baeps, durante o roubo a uma agência do Banco do Brasil em Botucatu, a 238 km da capital.

Praticamente todos os criminosos conseguiram escapar levando o dinheiro do roubo, valor ainda não divulgado, com exceção de um deles, baleado e morto durante um dos confrontos com policiais já pela manhã desta quinta (30).

Estima-se entre 20 e 30 intregantes no grupo. Dois PMs ficaram feridos, sem gravidade e não correm risco de morte. Um deles foi ferido no calcanhar e, outro, no braço e na perna.

Foi a terceira vez que cidade foi alvo desse tipo de ação, mas, segundo a polícia, essa foi a mais audaciosa de todas elas. "Nada se compara ao que aconteceu nessa madrugada', disse disse o coronel Aleksander Toaldo Lacerda, 48, comandante da região (CPI/7). "O que diferenciou principalmente essa ação foi ímpeto desses infratores de buscarem o confronto com finalidade de tentar escapar do cerco policial, fugirem da cidade. Isso surpreendeu mesmo, de eles buscarem esse confronto a todo momento", afirmou.

As buscas pelos criminosos continuavam na tarde desta quinta. O acesso à cidade estava monitorado pelos PMs e parte do comércio ficou com as portas fechadas em razão do risco de alguns criminosos ainda estarem escondidos em casas abandonadas.

A prefeitura divulgou comunicado pedindo para os moradores permanecessem em casa para evitar riscos desnecessários.

De acordo com a polícia, a ação criminosa teve início por volta das 23h30 de quarta-feira (29) com um ataque à sede do batalhão da PM, na Vila Silvinha. Dois veículos foram colocados em frente do quartel, em um deles foi ateado fogo, para evitar a saída de viatura no reforço das outras. Os criminosos também passaram a disparar contra as guaritas para encurralar os PMs de plantão.

Enquanto isso, outra parte do bando se instalou no centro da cidade com objetivo de arrombar o cofre da unidade regional do Banco do Brasil, onde fica armazenado o dinheiro recolhido de outras agências da região. Foram utilizados explosivos para romper o cofre. A força da explosão danificou outros prédios do entorno, incluindo agências bancárias que tiveram os vidros quebrados.

Cerca de 25 policiais militares estavam de serviço na cidade no momento do ataque.

Logo no início dos ataques, segundo a PM, que foi dado início a chamado Plano de Contenção, montado justamente para enfrentamento de ataques a unidades bancárias. O plano foi criado após uma ação criminosa em Ourinhos, na divisa com o Paraná, quando bandidos também atacaram uma base da PM e cercaram uma delegacia enquanto roubavam bancos da cidade.

De acordo com Toaldo, policiais de cidades da região se deslocaram para Botucatu para fechar os principais acessos da cidade. Policiais da Rota, Gate e Coe, que participavam de treinamento de tropas do Baep em Bauru, também se deslocaram em apoio. Um grupo de PMs de São Paulo também se deslocou para a região para integrar o bloqueio.

Ao todo, 220 policiais militares, em 70 viaturas, cercaram a cidade, além de um helicóptero.

Houve ao menos quatro grandes confrontos entre policiais e bandidos, quando estes tentaram deixar a cidade com o dinheiro e se depararam com os bloqueios. Parte dos criminosos, segundo a polícia, abandou os veículos em que estava e se embrenhou na mata.

Outra parte, acredita-se, pode ter fugido para casas abandonadas –por isso o receio dos moradores. Além dos veículos abandonados, a polícia apreendeu um metralhadora .50 –capaz de derrubar aeronaves–, sete fuzis (556 e 762), metralhadora 9mm, além coletes a provas de bala, alguns deles capazes de suportar tiros de fuzil (nível 3). Só de armamento estima-se um investimento superior a R$ 1 milhão.

Dois malotes com dinheiro foram recuperados.

De acordo com a PM, evitar um confronto dentro da área urbana é um estratégia para não colocar inocentes em risco. Para a PM, o Plano de Contenção será ajustado diante da análise do caso, mas, em princípio, o resultado foi satisfatório.

"Fazendo uma análise da aplicação dele [do plano], sendo sua primeira vez, em uma situação dessas ainda, ele foi satisfatório uma vez que os infratores não conseguiram o intento de saírem com armamento, saírem com a quantidade de dinheiro e saírem com veículos em que estavam. Houve uma dificuldade da ação criminosa", disse.

MEDO

Com os ataques criminosos e a operação policial ainda em curso em Botucatu, o HC (Hospital das Clínicas) da Faculdade de Medicina de Botucatu adiou consultas e cirurgias eletivas marcadas para esta quinta –serão remarcadas.

As unidades de pronto-socorro estão atendendo somente emergências, e com portas fechadas, e a divulgação diária de dados referentes ao novo coronavírus também foi adiada.

A intensidade da ação da quadrilha fez a Prefeitura de Botucatu publicar comunicado ainda durante a madrugada pedindo para que todos os moradores permanecessem em suas casas "e não procurem possíveis pontos danificados pela cidade", para não colocar em risco a segurança de todos e não interferir no trabalho das polícias.

Muitas lojas não abriram nesta quinta, já que proprietários e funcionários ficaram com medo por não saberem exatamente se a quadrilha havia fugido ou se ainda estava escondida em regiões da cidade.

Com isso, a Secretaria da Saúde também suspendeu o funcionamento das unidades básicas de atendimento. Exames e consultas foram reagendados.

"A medida se faz necessária para proteger a população e servidores e também em decorrência de instabilidade nas redes de energia elétrica e internet de grande parte das unidades", afirmou a prefeitura.