Segundo youtuber mais popular do Brasil com 14 milhões de seguidores, Felipe Neto resolveu dar um passo além e criar um aplicativo próprio para divulgar sua produção de conteúdo.
Feito em parceria com a FanHero, a plataforma foi lançada no dia 28 de setembro e em 24 horas se transformou no produto mais baixado da Play Store e da App Store das últimas 48 horas, superando Facebook e WhatsApp.
Por trás dessa ideia, está a intenção de rivalizar com o YouTube. Segundo declarações do influenciador digital em entrevista à Veja Rio, o algorítimo do canal de vídeos do Google prejudica a divulgação de diversos produtores de conteúdo no Brasil.
"Eles podem interferir no número de visualizações dos canais e com isso alterar quanto vão pagar a quem produz os vídeos. Existe uma panelinha no escritório do YouTube Brasil que escolhe os canais para divulgar e privilegiar com base no gosto pessoal, e não nos números. Nunca tive reconhecimento ali", acusou o youtuber na matéria.
Em sua defesa, o YouTube relatou que esse ponto de vista estava equivocado e que não interfere diretamente no modo como os vídeos são divulgados.
Nesse aplicativo, Felipe quer ter um contato mais direto com o fã e oferecer outras interações além dos vídeos que faz para o canal.
A ideia de peitar uma multinacional gigante impressiona, mas não é nova e nem única. Em 2015, Neil Young lançou o Pono, tocador de músicas que oferecia qualidade de áudio em streaming superior ao do CD e que tinha como meta combater a dominação do iPod.
Inicialmente, o aparelho também foi um sucesso. Em apenas 24 horas, a vaquinha virtual para financiar o projeto feita no Kickstarter levantou os US$ 800 mil necessários para iniciar a produção.
No entanto, o preço salgado para adquirir os álbuns e a baixa capacidade de armazenamento do aparelho, fez com que, dois anos depois, o Pono tenha se tornado mais um daqueles lançamentos que engrossam a lista de novidades tecnológicas que não atingiram a popularidade, como o Mini CD e a fita Betamax.
Outro exemplo de ideia interessante que ficou obsoleta semanas após ser lançada é o formato de CD batizado de SMD (Semi Metalic Disc). Criado e divulgado por Ralf, da dupla com Chrystian, a mídia tinha como objetivo baratear os custos de produção de um disco original utilizando menor quantidade de metal. O produto que era compatível com qualquer aparelho de CD poderia ser vendido, em média, por R$ 5 ao artista e baratearia em até 30% o valor final para o consumidor.
A patente de Ralf foi vendida ainda em 2007 à brasileira Microservice, gigante nacional na produção de mídia física. No entanto, a empresa nunca apostou de fato no formato, até porque as grandes gravadoras não aderiram à ideia e continuaram a lançar CDs tradicionais. Em 2011, quando a Microservice pensou em dar enfoque na divulgação do SMD, as mídias físicas já estavam em plena decadência no País.
Um caso mais recente da difícil luta contra grandes corporações, mesmo quando há muito dinheiro envolvido, é o Tidal, que surgiu como alternativa aos gigantes Spotify e Deezer. Fundado por Jay Z, o aplicativo oferece lançamentos de grandes astros com exclusividade e melhor remuneração aos artistas. Isso atraiu muita gente.
O disco Lemon, de Beyoncé, esposa do rapper e empresário, foi lançado por ali como uma maneira de atrair assinantes ao Tidal. Resultado: o disco foi extremamente pirateado nas redes.
Os números apresentados pelo projeto ficam aquém do esperado. Rihanna, que lançou por lá o single American Oxygen, sentiu na pele que a proposta não é das mais positivas, já que a música foi o maior fracasso comercial da história dela.
Outro caso emblemático de que a exclusividade do Tidal não tem funcionado é o caso do lançamento do disco Life of Pablo, de Kanye West. Inicialmente, o álbum seria restrito a essa plataforma. Mas ao não ter o impacto esperado, logo Kanye rompeu o contrato e soltou o CD no iTunes e nas variadas plataformas de streaming. Logo em seguida, a amizade dele com Jay Z acabou e o rapper abriu um processo contra o marido de Beyoncé, exigindo US$ 3 milhões.
Em uma era de onipresença digital, exclusividade é uma aposta anacrônica que pode levar grandes astros à invisibilidade ou irrelevância. Talvez Felipe Neto tenha melhor sorte, mas não deixa de ser uma atitude arriscada.