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Kiev sofre novos ataques após reunião sem acordo entre Rússia e Ucrânia

UOL | 28/02/22 - 16h32
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A reunião entre as delegações da Ucrânia e da Rússia, hoje, em Belarus, terminou sem acordo entre os países, informou a Tass, agência de notícias russa. Logo após o fim da reunião, explosões começaram a ser ouvidas em Kiev, capital ucraniana.

A prefeitura informou no canal oficial do Telegram sobre um possível ataque aéreo. Sirenes tocaram por toda a cidade. O diário local The New Voice of Ukraine publicou um vídeo de uma explosão na cidade.

Os alarmes que anunciam ataques aéreos também soaram nas seguintes cidades: Lviv, Rivne, Khmelnytsky e Kamianets-Podilskyi.

De acordo com a CNN Brasil, 5.500 pessoas foram detidas na Rússia até o momento por participarem de protestos contra os conflitos.

Negociações - A reunião entre Rússia e Ucrânia durou cerca de cinco horas. O assessor do presidente da Ucrânia, Mikhaylo Podolyak, disse para jornalistas que os representantes de ambos os países retornam hoje para suas capitais e vão realizar consultas para a próxima rodada de negociações. Uma nova reunião deve ser marcada nos próximos dias.

"As delegações ucranianas e russas realizaram a primeira rodada de negociações. Seu objetivo principal era discutir o cessar-fogo e o fim das ações de combate no território da Ucrânia", disse Podolyak, segundo a CNN Internacional. "As partes discutiram a realização de mais uma rodada de negociações, em que essas decisões podem se desenvolver", afirmou.

Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodimir Zelensky, não participaram do encontro —ambos enviaram representantes (leia mais abaixo).

Antes da reunião, a Ucrânia informou que exigiria um cessar-fogo "imediato" e a retirada das tropas russas; a Rússia não quis revelar sua posição.

Hoje, a invasão russa à Ucrânia entrou no quinto dia. A capital, Kiev, e a segunda maior cidade ucraniana, Kharkiv, amanheceram com explosões, segundo relatório do serviço estatal de informação do país. As Forças Armadas ucranianas, porém, disseram que o Exército russo parecia ter diminuído o ritmo da ofensiva.

Reunião - Do lado russo, a missão diplomática foi liderada pelo conselheiro do Kremlin, Vladimir Medinski. A Ucrânia enviou seu ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, que chegou vestido com uniforme militar.

"Podem se sentir completamente seguros", declarou o ministro bielorrusso das Relações Exteriores, Vladimir Makei, ao recebê-los.

A reunião aconteceu em uma das residências do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko —aliado de Vladimir Putin—, na região de Gomel, perto da fronteira com a Ucrânia.

O principal negociador russo, Vladimir Medinski, afirmou que seu país "busca um acordo".

Já Zelensky, presidente ucraniano, se mostrou cético, em pronunciamento hoje. "Como sempre, realmente não acredito no resultado da reunião, mas deixe que tentem", declarou.

No domingo, Putin ordenou que as forças de dissuasão nuclear fossem colocadas em alerta máximo. O governo dos Estados Unidos classificou a ordem de Putin como "totalmente inaceitável" e o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, chamou a atitude de Moscou de "irresponsável".

Momento "crucial" - A Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) também convocou uma reunião de emergência nesta segunda.

Mais cedo, o presidente ucraniano disse que as próximas 24 horas serão "cruciais" para o país. Ele divulgou uma mensagem para os soldados russos, pedindo para que deixem a Ucrânia.

"Abandonem seu equipamento, saiam daqui. Não acreditem em seus comandantes, não acreditem em seus propagandistas. Apenas salvem suas vidas", afirmou, em russo. Zelensky também quer que a UE (União Europeia) "admita urgentemente" a entrada da Ucrânia no bloco —ele assinou hoje um documento pedindo o ingresso.

Segundo a ONU, ao menos 102 civis foram mortos no conflito, que também já deixou 422 mil refugiados.

O Ministério da Saúde da Ucrânia informou, nesta segunda, que mais de 2 mil civis ficaram feridos em ataques da Rússia ao país —sendo 45 crianças. Ainda de acordo com os números oficiais do governo, 352 pessoas morreram, sendo 16 crianças.

Quinto dia de ataques - No quinto dia após o início dos ataques russos, Kiev e Kharkiv haviam permanecido algumas horas sem registrar explosões.

Nos ataques em Kharkiv, ao menos duas pessoas foram mortas, segundo o governo ucraniano. Já na capital, em uma área próxima a uma ponte queimada, era possível observar granadas não detonadas, veículos atingidos e corpos de soldados russos após um ataque que foi repelido por forças ucranianas.

Um prédio residencial em Chernigov, a cerca de 144 quilômetros de Kiev, ficou em chamas após ser atingido por um míssil. Segundo o jornal ucraniano The Kyiv Independent, uma mulher ficou ferida devido ao incêndio.

As sirenes com alertas para ataques aéreos também soaram em várias outras cidades do país, como Cherkasy, Dnipro, Luhansk e Zhytomyr. Em todos os casos, a recomendação é a mesma: os moradores devem se dirigir ao abrigo mais próximo.

Segundo o assessor do chefe de gabinete da presidência da Ucrânia, Oleksiy Arestovych, Moscou "realizou ataques com mísseis por toda a Ucrânia" durante o período da noite.

Na cidade de Zhytomyr, o principal alvo foi o aeroporto local. Segundo a imprensa ucraniana, a Rússia disparou mísseis direcionados ao aeroporto a partir de Belarus, um dos poucos países a declarar abertamente apoio a Moscou.

A presidência ucraniana afirmou que a cidade de Berdiansk, no Mar de Azov, está "ocupada" e o exército russo afirmou que cercou a a localidade de Kherson, mais ao oeste do país.

As duas cidades ficam próximas da península da Crimeia, que a Rússia anexou da Ucrânia em 2014 e a partir da qual iniciou uma de suas várias forças de invasão.

Fim do toque de recolher - Kiev permaneceu sob rígido toque de recolher no fim de semana, que terminou nesta segunda.

Longas filas eram observadas do lado de fora de supermercados, com a população exausta. Nas ruas, brigadas de voluntários com fitas das cores do país (azul e amarelo) instalaram barricadas improvisadas.

O exército russo afirmou que os civis podem sair "livremente" de Kiev e acusou o governo ucraniano de utilizá-los como "escudos humanos".

Reunião na ONU - A convocação da Assembleia-Geral foi decidida na noite de domingo (27) pelo Conselho de Segurança da ONU, com maioria de 11 dos 15 membros do grupo. A Rússia se pronunciou contra o encontro. China, Índia e os Emirados Árabes Unidos se abstiveram.

Países ocidentais esperam que grande parte dos 193 países-membros da ONU condenem a ofensiva militar da Rússia na Ucrânia, tornando visível o isolamento internacional da liderança russa. O evento acontece em Nova York.

Reuniões de emergência da Assembleia-Geral da ONU são raras. Desde 1950, houve apenas dez encontros do gênero.

Atenção sobre o vizinho - Na Europa, Belarus —que faz fronteira com a Ucrânia— viu seu presidente, Alexander Lukashenko, ganhar mais poder após um controverso referendo no domingo para mudar a Constituição do país. 65% das pessoas que participaram da votação se disseram a favor da eliminação do status de "não nuclear" do país.

Se entrar em vigor, a decisão permitirá armas nucleares em Belarus pela primeira vez desde que o país devolveu à Rússia as ogivas que herdou após a queda da União Soviética, em 1991.

A mudança dá a Lukashenko imunidade vitalícia contra processos e punições. Lukashenko governa o país desde 1994, sendo conhecido como "o último ditador da Europa".

O Japão considera impor sanções também a Belarus —pois o país é aliado da Rússia—, depois de já ter adotado restrições contra Moscou em linha com as ações de parceiros de Tóquio, como os Estados Unidos. O premiê japonês, Fumio Kishida, afirmou nesta segunda-feira que seu governo deverá tomar uma decisão em breve.

Sanções da UE em vigor - As sanções da UE ao Banco Central russo entraram em vigor na madrugada desta segunda-feira. Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, as restrições incluem uma proibição de transações com o instituto financeiro.

Além disso, todos os patrimônios do banco na UE deverão ser congelados para impedir o financiamento da guerra do presidente russo Vladimir Putin contra a Ucrânia. As sanções são consideradas tão pesadas quanto a exclusão de instituições financeiras russas da rede de comunicações bancárias Swift.

Ontem (27), a UE concordou em conceder 450 milhões de euros —cerca de R$ 2,6 bilhões— para financiar o fornecimento de equipamento militar letal à Ucrânia, e outros 50 milhões de euros —R$ 288 milhões— para equipamento não letal, como combustível e equipamento de proteção.