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'Papai, mamãe está machucada na cabeça': diz filho de mulher morta ao protegê-lo de tiros no Rio

Extra | 27/08/20 - 16h53
Reprodução / TV Globo

“Ele ficou todo sujo de sangue aqui, no peito. Ficou me dizendo, ‘papai, mamãe está machucada na cabeça’, fica perguntando por ela”. O desabafo é de Edson de Melo Brito, companheiro de Ana Cristina da Silva, de 25 anos, que morreu após ser baleada durante um confronto entre criminosos no Complexo do São Carlos, na Região Central do Rio, na noite desta quarta-feira.

O corpo de Ana Cristina chegou ao Instituto Médico Legal às 11h35 desta quinta-feira. Poucos minutos antes, o companheiro dela chegou ao local acompanhado da irmã, Vânia Brito.

Ana Cristina ia para o trabalho quando ficou em meio ao fogo cruzado de criminosos na comunidade. Ela foi atingida por dois tiros. Segundo a cunhada da jovem, Ana foi baleada ao proteger o filho de três anos, fazendo uma espécie de escudo sob a criança. Quando o tiroteio começou, ela se abrigou no carro de uma moradora que passava pelo local.

— Na hora do tiroteio estava passando uma mulher de carro, e ela não pensou duas vezes para pedir para entrar. Assim que entrou, não sei qual foi o pensamento dos bandidos, mas atiraram no carro — conta.

Vânia diz que a família acionou o Corpo de Bombeiros, mas que após uma hora sem socorro, Ana foi levada por moradores da comunidade até o Hospital Municipal Souza Aguiar, mas acabou não resistindo aos ferimentos.

— Meu irmão tentou entrar em contato com o Corpo de Bombeiros, mas como estava tendo bastante tiroteio, acredito que foi por isso que eles não foram socorrer. Demorou uma hora, e ela estava perdendo muito sangue — lembra Vânia.

“A vida dela era o filho”

Ainda segundo a cunhada de Ana, o sobrinho era cuidado por uma mulher enquanto a jovem trabalhava no comércio da família. Depois de presenciar a mãe ser baleada, ele tem perguntado ao pai e à família que horas ela chegará em casa.

— Hoje de manhã ele estava perguntando que horas a mãe dele ia chegar. Como ele presenciou, sabe que a mãe dele foi machucada. Fica ligando para o meu irmão, perguntando como ela está no hospital, se “mamãe está bem”, que horas ela vai voltar — diz Vânia. — A gente não sabe como vai lidar com isso ainda. Uma criança presenciar a mãe morrer em cima dela para protegê-la, acho que vai ser um trauma que ele vai carregar pro resto da vida. Ele ficou coberto de sangue, ela caiu em cima dele.

Ana e Edson estavam juntos há seis anos. A jovem e o marido vieram da Paraíba, mas se conheceram no Rio. Edson ainda não sabe se continuará morando na cidade. A família quer levar o corpo da jovem para ser sepultado na sua cidade natal.

— O sonho dela era ser mãe. Ela era muito família, a vida dela era o filho, dava tudo por ele, tanto que ela provou e deu a vida por ele — diz Vânia.

A última vez que Ana viu familiares foi no ano passado, quando uma irmã da jovem veio visitá-la. O aniversário do menino é no próximo dia 11, e a mãe já estava planejando uma comemoração para celebrar a vida do filho.

— Ela estava preparando a festinha dele, já tinha comprado algumas coisas, estava tudo certo, e acabou, de uma hora para outra — desabafa.