Alagoas

Pesquisador da Fiocruz participa de webconferência da AMA e defende uso imediato da testagem

Ascom AMA | 16/04/20 - 11h32
Foto: Ascom AMA

Em mais de duas horas de webconferência, o médico sanitarista e pesquisador da Fiocruz, Daniel Soranz, doutor em saúde pública pela Fundação Oswaldo Cruz  tirou dúvidas de gestores sobre a organização do sistema de saúde no combate a Covid-19. Ele defende a ampliação dos exames de testagem como forma de monitoramento da circulação viral e pediu a secretaria estadual de Saúde que libere imediatamente os testes enviados pelo Ministério da Saúde aos municípios. Também diz que os gestores não devem “correr” para comprar testes porque o MS já está conseguindo comprar os insumos que também serão repassados às cidades.

Soranz também sugere que tanto estado como municípios criem estruturas específicas de atendimento a pacientes que apresentem sintomas- fora das unidades básicas de saúde- e façam um mapeamento dos doentes com casos sintomáticos e problemas respiratórios. Esse acompanhamento é importante tendo em vista que o país terá uma explosão de casos em maio , principalmente nas capitais e grandes cidades , com reflexo posterior em cidades menores. Também destaca a importância da atenção aos profissionais de saúde e o uso de equipamentos mais modernos e a telemedicina para atendimento. “ É um momento que todos precisam se reinventar porque a atenção primária também precisa continuar atendendo aos assistidos e sugeriu uso de redes sociais por parte dos médicos de saúde da família, criação de pólos de atendimento e entrega de medicamentos em casa, para evitar , ao máximo, a contaminação das pessoas.

Membro da comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, a deputada Jó Pereira, que participou da webconferência ao lado da deputada Fátima Canuto e do deputado Davi Maia concorda que a necessidade desse protocolo de atendimento seja simples, rápido e eficaz.

“É um tempo que parece longo, diz, mas que já está batendo a nossa porta, e quanto mais rápida forem as ações e os diagnósticos, mais vidas serão salvas”, diz o pesquisador. Para a presidente da AMA, prefeita Pauline Pereira esse é um momento de muitas dúvidas para os gestores, principalmente com relação as diversas portarias que estão sendo expedidas, a compra de insumos, como os testes, a suspensão de atendimentos da atenção básica para suporte as unidades Sentinelas e onde os gestores devem empregar reforços e investimentos diante de um cenário ainda tão desconhecido.

A presidente também garantiu que a AMA vem orientando regularmente os gestores através de seus canais, em parceria com o Cosems e Sesau, principalmente com relação as medidas a serem adotadas, repasses de recursos do Ministério da Saúde, distribuição de EPIs e acompanhamento dos resultados das testagens que estão sendo feitas, como forma de monitoramento aos municípios.

Secretário de Saúde, Alexandre Ayres anunciou que Alagoas já passou da instalação de 100 UTIs e está ampliando as testagens para concluir a fila hoje represada e aumentar a capacidade dos exames , hoje com uma média diária que oscila entre 40 e 50 testes que, segundo ele, “são suficientes até o mês de maio”. Ao pesquisador da Fiocruz, o secretário explicou que Alagoas está utilizando três tipos de exames: sorologia rápida, IGG por quimiluminescência e PCR, exclusivo do Lacen e de 12 unidades capacitadas. Também anunciou que o Estado contratualizou um laboratório paulista e está conversando com laboratórios particulares para assegurar um maior número de resultados. Ao responder ao deputado estadual Davi Maia, assegurou que o laboratório da Ufal não pode ser utilizado porque a universidade não tem recursos para a compra dos insumos e ainda não tem a certificação da Anvisa. Para os municípios mais isolados o governo está adquirindo vinte ambulâncias avançadas para dar suporte aos gestores.

Ayres também garantiu que até segunda feira o estado vai repassar os quantitativos  de testes rápidos que serão distribuídos aos municípios e respondeu à presidente da AMA sobre as estatísticas anunciando que os resultados positivos entram imediatamente no mapa e os casos negativos passam a ser monitorados. “O uso pode não ser a forma ideal, mas é uma maneira de se mapear a circulação do vírus, sua cadeia epidemiológica”, disse o pesquisador da Fiocruz Daniel Soranz. Ele também explicou que as pessoas curadas e que foram testadas funcionam como indicativo para que os municípios possam mapear quem está imune e possa liberar a circulação das pessoas.

Ao presidente da OAB, Nivaldo Barbosa que questionou os EPIs, o secretário Alexandre Ayres disse que a distribuição está normalizada para todos os profissionais de saúde do Estado, bem como agentes de segurança, ressocialização e até alguns hospitais particulares. Também garantiu que dos R$ 16,5 milhões recebidos pelo governo federal, R$ 9,4 foram pactuados com o Cosems e repassados aos municípios. Essa distribuição foi acompanhada pela AMA que elaborou planilha quantitativa distribuída as cidades, complementou a presidente Pauline Pereira.

O presidente do Cosems Rodrigo Buarque, secretário de Saúde de Jundiá, assegurou a distribuição e também dos 12 mil testes regulados pela Instrução Normativa 02/2020 da SAPS a partir desta quinta feira, dia 16. O uso desses testes precisa ser imediato, disse o doutor Daniel Soranz que considera um erro de planejamento do governo federal defender uso apenas com sintomáticos. Também defendeu o uso dos testes PCR nas unidades sentinela e acha que os casos precisam ser notificados antes mesmo dos resultados.

Soranz também alerta para a necessidade do monitoramento da população , o que pode fazer a diferença nas próximas semanas, acredita o pesquisador. Esse trabalho, segundo o Secretário Alexandre Ayres está sendo feito através do Alou Saúde, um programa criado pelo governo para atender as pessoas e que já chegou a casa dos 500 atendimentos diários via telefone. “É um controle difícil, mas os prefeitos estão trabalhando para isso”, garantiu a presidente da AMA, principalmente através das unidades Sentinela que agora trabalham também com psicólogas, diante do aumento dos casos de ansiedade. Uma das recomendações do professor Daniel é que todos os contatos sejam registrados e que os municípios tentem equilibrar a atenção básica e a vigilância com os recursos disponíveis.

Não se pode fazer saúde sem vigilância, garantiu a técnica da Confederação Nacional dos Municípios -CNM- Carla Albert que tem acompanhado e orientado os municípios sobre ações de saúde. Se não se conhece o território de saúde , as respostas não virão e lembrou também da necessidade da conexão da Saúde com a Assistência Social, para priorizar as comunidades mais vulneráveis.

Um dos assuntos discutidos na webconferência, o uso da hidroxicloroquina foi regulamentada nesta quarta feira pelo governo, através de portaria, com base em estudos da Sociedade Alagoana de Infectologia. O uso, porém, segundo o medico Daniel Soranz deve ser cauteloso e citou o conceituado laboratório Nice, que ainda não lançou um estudo definitivo sobre a droga. Também descartou o uso profilático, como alguns profissionais de saúde estão defendendo como prevenção.

Para a presidente da AMA, Pauline Pereira a webconferência foi muito importante  pelo volume de informações repassadas e que terão muitos desdobramentos práticos.