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Presidente do TCU pede à PF que investigue auditor por repassar relatório falso a Bolsonaro

Mônica Bergamo/Folhapress | 15/06/21 - 15h13
Agência Brasil

 A presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Ana Arraes, pediu à Polícia Federal que investigue o auditor do órgão que repassou ao presidente Jair Bolsonaro um relatório falso com informações distorcidas sobre o número de mortes pela Covid-19 no Brasil.

Arraes enviou ofício ao diretor-geral da PF, delegado Paulo Maiurino, solicitando que este abra um "inquérito policial para apurar eventuais ilícitos penais praticados pelo auditor federal de controle externo Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques".

A presidente do órgão já havia determinado abertura de processo disciplinar e afastamento do auditor, autor da análise que levou o presidente Jair Bolsonaro a sugerir, mais uma vez sem provas, uma supernotificação de óbitos pela pandemia no Brasil.

No dia 7 de junho, Bolsonaro deu uma declaração a pessoas que o esperavam na saída do Palácio da Alvorada dizendo que o TCU tinhaum relatório afirmando que "50% dos óbitos por Covid não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União".

No dia anterior, o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques havia incluído no sistema documento não oficial com os dados distorcidos. Ele compartilhou o documento com colegas. Segundo informações encaminhadas à corregedoria do tribunal, o auditor relatou que comentou o teor de suas opiniões com o pai, Ricardo Silva Marques.

Militar, amigo de Bolsonaro e gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, ele teria encaminhado ao presidente, segundo o servidor do TCU disse a seus chefes.

​O auditor Alexandre Marques foi indicado para a diretoria de compliance do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em 2019, mas acabou barrado para o órgão pelo próprio tribunal.

Integrantes do TCU dizem que filhos do presidente Bolsonaro, entre eles o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), estariam por trás dessa indicação à época. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) disse desconhecer o auditor.

O TCU desmentiu a declaração de Bolsonaro. O órgão disse, em nota, que não elaborou o documento. O tribunal instaurou "procedimento interno para apurar se houve alguma inadequação de conduta funcional no caso". Segundo o TCU, o documento era uma análise pessoal de um servidor, que havia sido compartilhada para discussão e não integrava processos oficiais.