Brasil

Tragédia em Mariana: mineradoras doaram R$ 1,5 mi a parlamentares

13/11/15 - 06h03

Bento Rodrigues foi varrido do mapa; seis mortes estão confirmadas (Crédito: Agência Brasil)

Bento Rodrigues foi varrido do mapa; seis mortes estão confirmadas (Crédito: Agência Brasil)

A investigação paralela da Assembleia Legislativa sobre o maior desastre ambiental de Minas, o rompimento de duas barragens da Samarco em Mariana, na região central do Estado, pode esbarrar no lobby das mineradoras. Entre os 20 parlamentares titulares e suplentes que vão apurar o desastre, 17 declararam doações de mineradoras nas eleições do ano passado que totalizam R$ 1.577.532 em recursos diretos ou indiretos, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Um milhão e meio de reais para investigadores da tragédia que pode alterar a legislação do setor no Brasil.

Os deputados já desistiram da criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que foi cogitada após o rompimento, e formaram a Comissão Extraordinária das Barragens, com menor poder de decisão - que não pode quebrar sigilo nem obrigar o comparecimento de investigados.

Entre os integrantes da comissão estão o petista Paulo Lamac, que engordou o caixa com R$ 572 mil declarados de mineradoras, Gustavo Corrêa (DEM), com R$ 240 mil, Gil Pereira (PP), com R$ 180 mil, Wander Borges (PSB), que ganhou R$ 164 mil, e João Vitor Xavier (PSDB), que viu o saldo da campanha crescer R$ 81 mil com a ajuda do setor. Dez colegas, no entanto, receberam menos de R$ 3.000 ( ver lista completa abaixo).

Somente Iran Barbosa (PMDB), Inácio Franco (PV) e Glycon Franco (PTN) não receberam recursos direitos ou indiretos (via partido) do setor em 2014 - os três são suplentes da Comissão.

O secretário de Meio Ambiente de Minas, Sávio Souza Cruz, responsável pela pasta que autoriza a operação das mineradoras, renova as licenças e tem a função de multar empresas, foi contemplado com R$ 270,8 mil destas corporações na campanha para deputado estadual no ano passado. A Vale, controladora de 50% da Samarco, doou diretamente ou via comitê nacional R$ 1,5 milhão ao governador de Minas, Fernando Pimentel. O petista foi alvo de críticas na última semana por ter escolhido a sede da corporação em Mariana para dar uma coletiva à imprensa.

Deputados não veem conflito de interesses

Gustavo Correa (DEM), que integra a Comissão Extraordinária de Barragens, lidera a lista de membros efetivos agraciados com doações de mineradoras - R$ 240,3 mil Ele afirma que suas doações "foram integralmente legais e realizadas de forma transparente, de acordo com a legislação eleitoral" e que os trabalhos da comissão "serão realizados com total isenção e lisura, com o compromisso de apurar as causas do rompimento dessas barragens e cuidar para que novos tragédias não venham a ocorrer".

Filho de ex-prefeito de Mariana, o deputado Thiago Cota (PPS), que recebeu R$ 111,6 mil, pontua que foi escolhido para a comissão por ser da cidade e que "empresas que contribuíram com a minha campanha são sérias e idôneas". Em nota enviada ao R7, justificou que "o fato da tragédia envolver uma mineradora não a absolve de receber todas as cobranças e investigações" e cobrou providências:

— É preciso ações da Samarco e do Governo para amparar essas famílias [atingidas] de forma justa e correta. Como membro desta Comissão, vou trabalhar por esse objetivo de forma clara e intensa.

A reportagem levantou que as empresas mais generosas aos caixas das campanhas dos mineiros foram Anglogold, MBR (Minerações Brasileiras Reunidas), CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), Mineração Esperança, Phoenix Mineração e Mineração Corumbaense Reunida.

Doações da Vale

Na condição de uma das maiores corporações do Brasil, a Vale abraçou as principais campanhas à presidência em 2014. Foram R$ 2,5 milhões registrados em doações ao TSE por Dilma Rousseff (PT) e R$ 2,9 milhões por Aécio Neves (PSDB). Nesta quinta-feira (12), Dilma anunciou que o Ibama vai multar de forma "preliminar" a Samarco em R$ 250 milhões pelos danos ambientais provocados em Mariana e no rio Doce. A ministra do Meio Ambiente Izabela Teixeira prometeu que não haverá "flexibilização" nas sanções.



Fonte: R7