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Tragédia em Minas: famílias de desaparecidos mesclam esperança e tristeza

09/11/15 - 23h36

Filhos de Aline pensam que o pai perdeu-se na mata e que ela foi buscá-lo (Crédito: Agência Brasil)

Filhos de Aline pensam que o pai perdeu-se na mata e que ela foi buscá-lo (Crédito: Agência Brasil)

Com o coração apertado, a dona de casa Aline Ferreira dos Santos fala sobre os quatro filhos que deixou em casa quando pegou a estrada rumo a Mariana, cidade histórica de Minas Gerais.


Ela saiu de Belo Horizonte apressada em busca de informações sobre o marido Samuel Vieira Albino, que prestava serviço para a mineradora Samarco no momento em que duas barragens de rejeitos romperam-se, na tarde da última quinta-feira (5).

"Fiquei sabendo do acidente às 19h40. Às 20h30, eu já estava saindo de casa. As crianças ficaram em Belo Horizonte", contou Aline. "Meus filhos mais velhos acham que o pai está desaparecido na mata e que eu vim buscá-lo e vou levá-lo de volta pra casa. Minha filha pequena tem dois anos e meio e não sabe o que está acontecendo. Acha que o papai está só trabalhando."

Aline faz questão de contar que Samuel é um pai presente e um marido atencioso. "A última vez que nos vimos foi agora, no feriado de Finados [2 de novembro]. Ele veio para cá. Chegamos a conversar por telefone no dia da tragédia, por volta de meio-dia. Depois, ele saiu para almoçar em um restaurante de Bento Rodrigues [distrito de Mariana], que também foi destruído."

Diante de informações desencontradas – a própria lista de desaparecidos foi revista pela prefeitura de Mariana –, a dona de casa passa o dia no centro da cidade, abordando por conta própria funcionários da Defesa Civil e homens do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais que participam das buscas.

"O primeiro dia foi desesperador. O segundo, esperançoso. Agora, a gente tem que se manter forte. Tenho que ficar correndo na rua perguntando se alguém sabe de alguma coisa. Entro na internet, ligo para um amigo, mas nunca tenho resposta. Só tenho mesmo esperança", resumiu Aline.

Ana Paula Alexandre, de 40 anos, é técnica de segurança e esposa de Edinaldo Oliveira, que também prestava serviços para a mineradora no momento em que as duas barragens se romperam. Ela mora sozinha com o marido na cidade vizinha, Ouro Preto. "Todos os dias, ele vem para o trabalho e volta pra casa."

Enquanto conversa com a equipe de reportagem, Ana Paula refere-se ao marido como se ele ainda estivesse vivo e, em outros momentos, como se não houvesse mais esperança de encontrá-lo com vida. "É uma mistura de emoções. A gente não sabe o que sentir direito. Não sei se amanhã vou ter alguma resposta. Só sei que é difícil não pensar em uma coisa que a gente talvez, lá no fundo, já saiba que aconteceu."

O pai do menino Thiago Damasceno Santos, de 7 anos, diz que só fala com a imprensa depois que o filho for encontrado. A criança morava em Bento Rodrigues com a avó, que conseguiu se salvar. A casa onde o menino estava fica na parte baixa do comunidade e foi completamente tomada pela lama e pelo barro. Calado, o homem acompanha as buscas no próprio local da tragédia. "Não quero falar agora. Só quero encontrar meu filho."