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Valentina, filha de Tadeu Schmidt, é 'queer': o que significa termo?

Universa/UOL | 21/01/22 - 07h54
Arquivo Pessoal

A sigla LGBTQIA+ inclui letras que podem ser usadas para explicar a orientação sexual, a expressão e a identidade de gênero de muita gente. O "Q", de "queer" (pronuncia-se "cuir", em português, com o "ir" de forma acentuada), é a letra com que a artista Valentina Schmidt, filha do apresentador do BBB Tadeu Schmidt, se identifica para expressar como vive o amor e as relações afetivas.

"Sou 'queer', ou seja, no meu caso, minha orientação sexual e atração emocional não correspondem à heteronormatividade", escreveu em uma publicação no Instagram. "Eu me amo e amo todes [uso de linguagem neutra] vocês. Essa sou eu. Simples assim". Também esclarece que, para se dirigir a ela, as pessoas devem usar os pronomes "ela/dela".

Mais comum no movimento fora do Brasil, o termo "queer", traduzido como "estranho", é uma forma de reconhecer as pessoas que não se encaixam no que impõe a estrutura heterossexual, que valida como "norma" se sentir atraído somente pelo gênero oposto. Mas, afinal, o que significa essa palavra?

De pejorativo a motivo de orgulho

No texto publicado no Instagram, escrito em inglês e em português, Valentina Schmidt diz que "se sente confortável" com o adjetivo. Acontece que, desde os anos 1980, pessoas LGBTQIA+ têm se dedicado a fortalecê-lo como um viés positivo; antes, o "queer" era usado de forma preconceituosa contra esse grupo. Esse movimento acontece principalmente no discurso e na elaboração acadêmica e em países que falam inglês, como Estados Unidos e Inglaterra.

Diretor do Centro Cultural da Diversidade, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e do Festival Mix Brasil, André Fischer explica que, no Brasil, quando usado, é mais comum que seja por homens. "São aqueles que não se identificam com o 'G' de gay, por entenderem que ser gay traz agora uma série de significâncias diferentes. Algumas pessoas associam a um padrão de gay, o homem branco, cisgênero, classe média. E querem se distanciar desse estereótipo".

Harlley, do coletivo de rap brasileiro Quebrada Queer, concorda com a análise. "No Brasil, muitas bichas afeminadas já não conseguiam mais se identificar com o 'G' de gay, e tudo que ele representa. Há uma padronização do gay másculo", pontua. "E o que difere o gay do 'queer' tem a ver com o primeiro seguir um padrão da masculinidade, e o segundo, não necessariamente."

Quem usa o termo?

Harlley, que se identifica como pessoa não binária, explica que o uso do termo no nome do grupo Quebrada Queer é para abrigar "corpos que vivem nas periferias e que não são representados no audiovisual, incluindo travestis, que são da cultura do Brasil, não binários e todos aqueles que não seguem a cisgenaridade".

Para chegar à expressão, conta, os seis integrantes passaram por processos de reafirmação de quem são e de autoconhecimento. "Quando surgimos, também fomos responsáveis por criar novas linguagens para o termo. No final, ele é para aqueles corpos que são considerados estranhos; no nosso caso, aliás, seis corpos 'de quebrada'".

Por que palavra não é tão popular por aqui?

Para Fischer, o uso de "queer" é mais restrito no Brasil ao espaço acadêmico. "Não foi tão incorporado pelo movimento, e já foi até usado no passado por pessoas que tinham relacionamentos poliamorosos, mas eram heterossexuais", explica.

"O fato de não ser uma palavra traduzida, que precisa de uma legenda para entendermos, faz com que ela seja mais difícil de ser usada".

Com a capacidade de abranger aqueles que não se entendem dentro dos padrões heteronormativos, o "Q" também pode ser uma letra de "acolhida".

"A vantagem é que quem está buscando sua letra também pode ser abrigado ali. Por outro lado, às vezes usam como uma maneira de não se comprometer com as pautas LGBTQIA+, com a não binariedade [uma variação contemplada pelo sinal de + na sigla]", diz Fischer.