Alagoas

Em quatro anos, casos de justiçamento quase quadruplicaram em AL, diz OAB

Bruno Soriano | 10/10/21 - 13h55
Bem Donson veio a óbito três dias após ser espancado por ambulantes; ele deixou dois filhos | Reprodução/rede social

A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB-AL) já registrou, somente este ano, 45 casos de justiçamento em todo o estado. Desse total, cinco das vítimas morreram. Apesar de inferior ao registrado no ano passado, quando a Comissão de Direitos Humanos da OAB contabilizou 83 casos e 17 mortes, o número é igualmente assustador, perfazendo cinco óbitos em cada mês de 2021.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (08), um dia após a família de Bem Donson dos Santos Santana, de 33 anos, chorar a morte do motorista por aplicativo espancado após se envolver em uma confusão na Rua das Árvores, centro de Maceió, o que levou a própria OAB a fazer um novo alerta sobre o perigo do justiçamento. Ao TNH1, a irmã da vítima, Daiana Santana, lamentou o episódio e disse esperar que a polícia consiga identificar, o quanto antes, todos os envolvidos por meio de câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais da região. Vídeo (abaixo) que circulou nas redes sociais mostra o veículo do motorista - que teve o para-brisa danificado pelos agressores - após o incidente.

Em Alagoas, a Ordem registra situações em que pessoas decidem fazer justiça com as próprias mãos desde 2014, quando os 38 casos resultaram em oito óbitos, cinco a mais que no ano seguinte – 2015 somou 36 casos.

O que mais chama a atenção, no entanto, vem na sequência. Isso porque, entre os anos de 2016 e 2019, os casos de justiçamento quase quadruplicaram, saindo de 35 para inacreditáveis 123, com uma média de quase 10 óbitos por ano.

Em 2018, por exemplo, foram três casos em menos de 24 horas. Em um deles, um suspeito de tentar assaltar um coletivo que trafegava pela Avenida Gustavo Paiva, em Mangabeiras, foi rendido e espancado por motorista e passageiros após o condutor perceber que o jovem usava um simulacro de arma de fogo.

Já em 2020, um jovem de 24 anos suspeito de estuprar e matar uma adolescente de 13, no Benedito Bentes, foi assassinado a pedradas por populares – que se revoltaram e perseguiram o suspeito logo após o achado do cadáver da menina.

Porém, nem sempre os responsáveis por crimes do tipo seguem no anonimato. Este ano, a polícia conseguiu prender um jovem de 23 anos, também suspeito de tráfico de drogas, que agia como justiceiro no Conjunto Cleto Marques Luz, parte alta da capital. Uma das vítimas era usuária de drogas e estaria cometendo roubos na região, tendo sido morta com um tiro na cabeça.

Confira o relatório da OAB-AL:

2014: 38 casos de justiçamento; 08 óbitos

2015: 36 casos; 03 óbitos

2016: 35 casos; 06 óbitos

2017: 81 casos; 15 óbitos

2018: 116 casos; 13 óbitos

2019: 123 casos; 15 óbitos 

2020: 83 casos; 17 óbitos

2021: 45 casos; 5 óbitos