Educação

Estudantes buscam arrecadar cestas básicas para bolsistas da UFAL com atraso de pagamento

João Victor Souza | 30/03/21 - 07h00
Cortesia

Estudantes da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) se mobilizaram para arrecadar fundos para financiar cestas básicas para alunos que ainda não receberam o pagamento dos valores da bolsa estudantil. Segundo o movimento, o repasse do dinheiro está atrasado há cerca de um mês e muitos universitários se encontram em situação de extrema pobreza, com necessidade de ajuda para continuar com os estudos na universidade.

A jovem Rafaella Oliveira, que cursa o 6º período de Agronomia, contou à reportagem do TNH1 que a manifestação foi realizada por alunos de Agronomia, Agroecologia, História, Zootecnia e egressos da UFAL. O grupo esteve nessa segunda, 29, na Reitoria da universidade e conseguiu arrecadar 25 cestas básicas para distribuição. O objetivo é conseguir mais doações para contemplar outros estudantes em um novo momento.

"A arrecadação ainda está aberta. Conforme a gente for arrecadando dinheiro ou então os alimentos, iremos estar divulgando nas nossas redes sociais o dia exato para as próximas distribuições. Notamos que muitos alunos do interior do Estado se mostraram interessados, porém pela falta de dinheiro da passagem não conseguiram vir buscar. Continuamos em aberto com as doações, pode ser em dinheiro ou alimentos não perecíveis", destacou Rafaella.

"Houve uma doação de macaxeiras agroecológicas que também foram distribuídas aos alunos. Foram doadas pelo centro acadêmico de Agroecologia. Há muitas pessoas que estão em estado de extrema pobreza e o que estamos fazendo ainda é muito pouco para suprir as necessidades desse todo", acrescentou.

A estudante também explicou que o desejo da ação solidária era conseguir cestas básicas para os 4 mil bolsistas da UFAL em todo o Estado, porém para isso acontecer teria que ter apoio de órgãos federais, estaduais e municipais.

"Hoje tivemos muitos relatos emocionantes, foi difícil conter as lágrimas. Um deles foi de uma estudante de Enfermagem, natural de Caruaru, inclusive a primeira a conseguir ingressar na universidade. Ela veio morar em Maceió, começou a trabalhar como camareira, mas por causa da conjuntura atual e da pandemia, houve um corte, e ela ficou desempregada", iniciou. 

"A estudante está sem nenhum tipo de condição financeira para se manter aqui, estava entrando em desespero com as contas para pagar, com a falta de alimentos em casa. A mãe também não tinha condição de ajudá-la. Fizemos a entrega da cesta básica, e ficamos muito comovidos com a situação", concluiu Rafaella.

Protesto chama a atenção da população na capital e no interior

Em posse de faixas e cartazes, alunos da UFAL realizaram protestos em Maceió e Arapiraca na tarde de ontem pelo não recebimento dos valores da bolsa estudantil.

Na capital, o ato foi realizado na Praça do Centenário, no Farol. Em uma faixa, o grupo usou a hashtag 'Ufal, cadê nossa bolsa?' e pediu para a universidade priorizar a permanência dos universitários. 

O protesto chamou a atenção de motoristas e pedestres que passavam pela Avenida Fernandes Lima.

UFAL se solidariza com movimento e lamenta não pagamento

Por meio de comunicado no site oficial, a UFAL disse lamentar o atraso do repasse financeiro do Governo Federal e vive a expectativa de receber o recurso em breve para poder pagar a bolsa dos estudantes. 

A universidade se solidarizou ao movimento dos alunos e reforçou que está em contato permanente com o Ministério da Educação para tentar resolver a situação. 

Leia o posicionamento na íntegra:

Diante da grave situação de desmonte por que passam as universidades públicas, pelo não repasse de recursos financeiros por parte do governo federal, o reitor Josealdo Tonholo se solidariza com o movimento dos alunos da Ufal, que estão sem receber as bolsas desde fevereiro. Ele reforça que a gestão tem mantido contato permanente com o Ministério da Educação e buscado apoio da bancada federal para tentar resolver o problema, que depende, também, da liberação da peça orçamentária de 2021.

Tonholo enfatiza que desde fevereiro a Ufal não recebe nenhuma parcela mensal do financeiro, o que seria o 1/18 avos, e isso deixou a gestão sem dinheiro para pagar os bolsistas. “O movimento dos alunos é muito justo. O que estamos assistindo é o desmonte da educação e eu lamento não ter poder de resolutividade para essa situação das bolsas. Este movimento dos estudantes se coaduna com a posição que tomamos no Consuni, o que gerou, inclusive, uma moção pela educação pública e de qualidade”, desabafou.

O reitor lamenta, ainda, a atual falta de condições para manter os alunos em vulnerabilidade na Universidade. “Temos uma política séria de ingresso na Ufal sob o regime de cotas, mas se não tivermos condições de garantir a manutenção destes estudantes na instituição e que eles tenham condições de acompanhar as aulas, não teremos a transformação pela educação, tão necessária.  Estamos todos trabalhando arduamente para garantir o funcionamento da Universidade, mas tá muito difícil”, reforçou.

Em 2020, de acordo com a gestão central, todas as bolsas foram pagas regularmente até dezembro, incluindo os auxílios emergenciais para ajudar na superação dos problemas trazidos pela pandemia. “Infelizmente, este ano, tivemos apenas um único repasse de recursos para as bolsas, que foi em 17 de fevereiro, o que permitiu pagar as bolsas de janeiro. Desde o final de fevereiro não recebemos mais repasses, nem para bolsas nem para nada mais. Temos as folhas de fevereiro e as de março já liquidadas no DCF [Departamento de Contabilidade e Finanças], mas nenhum centavo em conta para poder fazer o pagamento”, completou.

De acordo com Tonholo, o governo federal mudou a política de repasses, antes semanal, para mensal e fez isso sem aviso prévio. “E o pior, os repasses que aconteceram não permitem o pagamento integral das pendências, pois está vindo de forma contingenciada. Lamento profundamente o que está ocorrendo, mas a questão do repasse extrapola nossa competência direta. Acionamos o MEC, acionamos a bancada federal, mas até agora não tivemos retorno. Vários deputados já se manifestaram, inclusive com cartas e vídeos. Esperamos que o Ministério da Economia seja sensibilizado para liberar logo estes recursos e que possamos retomar as atividades, dentro do que é possível, neste momento triste que estamos vivendo”, finalizou