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Homem que atacou motoboy é filmado cometendo nova injúria racial; veja

UOL | 10/04/21 - 09h04

O contabilista Mateus Abreu Almeida Prado Couto, que viralizou em um vídeo em agosto de 2020 após fazer ofensas racistas a um entregador de aplicativo em Valinhos, no interior de São Paulo, voltou a ser acusado pelo mesmo crime ao atacar verbalmente funcionários de um mini mercado no distrito de Barão Geraldo, na vizinha Campinas.

O vídeo com as cenas, gravadas na tarde dessa sexta-feira, 09, foi registrado por pessoas que estavam no local e postado nas redes sociais.

Veja:

Nas imagens, é possível ver Mateus na calçada em frente ao estabelecimento. Sem máscara, por diversas vezes ele xinga funcionários do mercado e em certo momento diz que é nórdico - referindo-se à região da Europa dominada por pessoas brancas.

Além disso, ele aponta para a própria pele fazendo menção a ser branco e o funcionário, negro.

Diego Brasa, filho dos proprietários do mercado, estava no estabelecimento no momento em que os xingamentos foram feitos. Ele relata que o homem havia ido até o local pela manhã e se irritado com os funcionários depois de ser impedido de entrar no estabelecimento sem máscara.

"Por estar sem a proteção, o funcionário não deixou que ele entrasse no mercado, nisso ele já ficou bem irritado e fez alguns xingamentos. Depois colocou uma camiseta cobrindo o nariz e a boca, entrou, fez a compra dele e foi embora. Nesse momento ele já estava bastante exaltado", relata.

Horas depois, por volta das 13h, o contabilista teria voltado ao local ainda mais exaltado e feito as ofensas.

"Ele dizia que atendíamos muitos clientes negros e que nós roubávamos os clientes. Além de fazer menção a questão de ele ser branco. Ele estava muito descontrolado e ficou cerca de 30 minutos em frente ao mercado nos xingando", acrescenta Diego.

Após o episódio, Mateus teria ido para seu apartamento, onde mora sozinho. O imóvel é próximo ao mercado. Entregadores que presenciaram as agressões verbais teriam ido até o local e ameaçado o contabilista.

A Guarda Civil Municipal e o Samu (Serviço Móvel de Atendimento de Urgência) foram chamados. Após quase três horas, Mateus, ainda exaltado, aceitou passar por atendimento médico e foi encaminhado pela GCM para o Hospital de Clínicas da Unicamp. De acordo com a GCM, o pai do contabilista foi chamado e acompanhou o filho até a unidade de saúde.

A reportagem do UOL tentou contato com a família de Mateus por telefone, porém ninguém atendeu às ligações no celular e no telefone residencial.

Em outra ocasião, o homem já foi inocentado pela Justiça por uma falsa acusação de furto por conta de um laudo atestando um quadro de esquizofrenia.

Diego explica que a família ainda não registrou boletim de ocorrência contra Mateus, mas afirmou que a mãe vai a uma delegacia ainda hoje para fazer o registro.

Caso de Valinhos

O vídeo com as ofensas de Mateus Abreu Almeida Prado Couto viralizou na internet em agosto de 2020. As imagens feitas por um morador do condomínio residencial de alto padrão em Valinhos, cidade a 85 km de São Paulo, mostram o contabilista xingando e humilhando um entregador de aplicativo negro por conta de um atraso na entrega.

O caso aconteceu em 31 de julho, mas só repercutiu uma semana depois, quando a mãe do entregador Matheus Pires, na época com 19 anos, publicou as imagens nas redes sociais. Após o ocorrido um boletim de ocorrência foi registrado.

Na época a família de Mateus Couto argumentou que o homem sofre de esquizofrenia. O pai dele apresentou à Polícia Civil um laudo que comprovaria que ele faz tratamento médico, e pediu "compreensão" devido ao estado de saúde. Levado à delegacia no dia das ofensas, ele foi liberado para responder ao crime de injúria racial em liberdade.

Racismo x injúria racial

A Lei de Racismo, de 1989, engloba "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". O crime acontece quando há discriminação generalizada contra um coletivo de pessoas.

O autor de crime de racismo pode ter uma punição de 1 a 5 anos de prisão. Trata-se de crime inafiançável e não prescreve. Ou seja, não é possível pagar fiança e a vítima pode fazer a denúncia a qualquer momento, não tendo um prazo máximo para que ela seja feita.

Já a injúria racial consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem a fim de atacar a dignidade de alguém de forma individual. Um exemplo de injúria racial é xingar um negro de forma pejorativa utilizando uma palavra relacionada à raça.