Saúde

Por que novo remédio para diabetes é superior ao Ozempic; especialistas explicam

CNN | 29/03/24 - 17h27
Foto: Reproducção/Eli Lilly

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou na segunda-feira (25) o registro do Mounjaro — que tem como princípio ativo a tirzepatida — novo medicamento para o tratamento de diabetes tipo 2.

Segundo a agência, ele tem efeito superior a concorrentes – como o Ozempic (ou semaglutida), outro famoso medicamento para o controle do diabetes.

Assim como o Ozempic, o Mounjaro tem como um de seus efeitos colaterais a perda de peso, o que leva o remédio a ajudar no controle do sobrepeso e obesidade.

Antes de ser disponibilizado em farmácias, o remédio deverá ser precificado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão interministerial ligado à Anvisa.

Por que o Mounjaro tem efeito superior ao Ozempic?

À CNN, a médica nutróloga Ana Luisa Vilela explicou que os dois medicamentos trabalham simulando hormônios que são naturalmente produzidos pelo corpo.

Ela explica que o Ozempic estimula os receptores de um hormônio intestinal chamado GLP-1.

Uma das funções do GLP-1 é retardar a passagem dos alimentos pelo estômago. Ele também ativa áreas do cérebro que faz com que a pessoa se sinta saciada por mais tempo.

A diferença do Ozempic para o Mounjaro é que, além de simular o GLP-1, o remédio recém-aprovado pela Anvisa também estimula os receptores de outro hormônio, o GIP, que atua na produção e liberação de insulina no organismo.

“Quando ele estimula esses dois receptores há uma sinergia na resposta. Então a gente vê um resultado melhor tanto em diminuição de glicemia quanto em diminuição de peso”, disse a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Disbetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, à CNN.

Ela destacou que já estão sendo feitos estudos com medicamentos com ainda maior potencial, que trabalhariam simulando três hormônios importantes para o tratamento da diabetes.

Quem deve tomar o Mounjaro?

O endocrinologista e diretor da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP), André Camara de Oliveira, explicou à CNN que o Mounjaro é uma medicação injetável, subcutânea, que se aplica uma vez por semana.

Os endocrinologistas ouvidos pela CNN destacam que a Anvisa autorizou o medicamento a ser utilizado no Brasil exclusivamente para diabéticos, apesar de já existirem estudos para tratamento de não diabéticos com obesidade.

“Eles estão fazendo uma análise para ver se vai ser liberada em relação à obesidade. Só que isso ainda não está liberado. A gente tem alguns estudos em pacientes com sobrepeso acima de 27 de MC mais um fator de risco ou paciente com obesidade com MC acima de 30, na qual a tirzepatida mostra resultados promissores. Entretanto, faltam ainda mais estudos, melhores análises para aprovar ou não para paciente não diabético”, disse Oliveira.

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Tanto Oliveira quanto Petry destacam a necessidade de acompanhamento médico àquele que tomar o medicamento, com realização frequente de exames.

“A tirzepatida tem alguns efeitos colaterais. Pode levar à náusea, vômitos, alterações gastrointestinais, até constipação, diarreia, dependendo da pessoa, e muito raramente até hipoglicemia”, disse o diretor da SBEM-SP.

Distúrbios estomacais também foram relatados por pacientes que utilizaram o Ozempic, que está disponível há mais tempo nos Estados Unidos. “Eu gostaria de nunca ter tocado nisso. Eu gostaria de nunca ter ouvido falar disso na minha vida”, disse um usuário à CNN.

Veja mais: Ozempic: entenda os riscos do uso do medicamento

A médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz acrescentou que deve haver também “um ajuste na expectativa de perda de peso”.

“A pessoa não pode nunca tomar [o Mounjaro] por fins estéticos. Isso também pode levar a um transtorno alimentar”, disse Petry.

Pacientes perderam cerca de 25% do peso. É comparável a uma cirurgia bariátrica?

A farmacêutica responsável pelo Mounjaro, Eli Lilly, divulgou no final de julho o resultado de estudos que apontaram que os pacientes tiveram, em média, 26,6% de perda de peso. O estudo ainda não foi publicado na íntegra.

A médica nutróloga Ana Luisa Vilela disse que os resultados levaram a comparações do medicamento até mesmo com uma cirurgia bariátrica. No entanto, os especialistas ouvidos pela CNN pediram cautela e refutaram a ideia.

O diretor da SBEM-SP destacou que, embora os estudos com diferentes formas de tratamento com Mounjaro terem demonstrado médias de perda de peso relevantes, é difícil o medicamento disputar lugar com a cirurgia bariátrica “pensando em custo, efeitos colaterais e até mesmo em resposta terapêutica”.

“Apesar da maioria das pessoas responderem muito bem, tem gente que acaba não respondendo tão bem. Isso é uma coisa que acontece com a maioria das medicações, a questão da individualidade. E sempre pensando de tanto controle de diabetes, como eventualmente controle de peso, se um dia essa medicação for liberada para perder peso, a gente tem que pensar no remédio como a cereja do bolo. Tem que fazer educação alimentar, tem que fazer atividade física e o remédio está lá para ajudar”, disse Oliveira.

À CNN, Rodrigo Barbosa, cirurgião especializado em bariátrica, dos hospitais Sírio-Libanês e Nove de Julho, também explicou que os resultados de uma cirurgia bariátrica são muito mais extensos.

“A cirurgia bariátrica ainda perde muito mais peso, de 30% a 70%, e tem muito menos chance de reganho. São indicações completamente diferentes ainda”, disse.

“Essas medicações precisam ser tomadas de forma crônica. A cirurgia tem essa “vantagem” de ser realizada e a mudança fica no paciente, não é uma coisa que o paciente tem que tomar. É mais uma opção terapêutica para o tratamento”, complementou a endocrinologista Tarissa Petry.