Justiça

Caso Abinael: acusados são levados a júri popular e testemunhas se emocionam em depoimentos

Da Redação | 26/10/21 - 07h00
Jonathas, Erickesen (óculos), Deivison (camisa azul) e Jalves | Foto: Caio Loureiro / Ascom TJ

Os quatro acusados de envolvimento na morte de Abinael Ramos Saldanha, ocorrida em 2016, começam a ser julgados na manhã desta terça-feira (26), no Fórum da cidade de Rio Largo, região metropolitana de Maceió. O júri popular está sendo conduzido pela juíza Eliana Machado, titular da 3ª Vara Criminal de Rio Largo. Veja como foi:

Sentam no banco dos réus Ericksen Dowell da Silva Mendonça, Deivison Bulhões da Rosa Santos, Jonathas Barbosa de Oliveira e Jalves Ferreira da Silva. O crime ocorreu após a vítima descobrir que Ericksen estava desviando valores da empresa em que trabalhavam. 

Jonathas, Erickesen (óculos), Deivison (camisa azul) e Jalves
Jonathas, Erickesen (óculos), Deivison (camisa azul) e Jalves (Foto: Caio Loureiro / Ascom TJ)
(Foto: Caio Loureiro / Ascom TJ)
(Foto: Caio Loureiro / Ascom TJ)

O primeiro a ser ouvido como testemunha é Alexandre Gomes Costa Neto, dono da empresa onde trabalhavam Abinael Ramos Saldanha e Ericksen Dowell da Silva Mendonça. Ele disse que Abinael Saldanha chegou a pedi-lo prioridade na contratação do Ericksen e destacou o trabalho exemplar da vítima, Abinael. 

"Nunca tive problemas com ele, não se atrasava, nem tinha faltas, funcionário muito bom. Ele pediu para contratarmos mais uma pessoa quando começou a subir a demanda. Ele indicou alguns currículos, dentre eles, o Ericksen. Apresentado como amigo pessoal, de infância, que frequentava a mesma igreja. Abinael me disse que se eu desse prioridade para a contratação dele, o próprio Abinael se encarregaria de treiná-lo. Trabalharam juntos por um ano mais ou menos", detalhou o dono da empresa.

"Em 2016, abri um escritório em Macaé e pedi ao Abinael para viajar e fazer o treinamento dos novos funcionários. Foi aí que o Abinael passou dois meses afastado e o Ericken ficou tomando conta em Maceió. Quando o Abinael voltou, eu cobrei os relatórios de venda, que não estavam vindo para mim. Como o Abinael estava afastado, o Ericksen é que deveria fazer o relatório, que é bem simples, numa planilha Excel, onde mostrava as vendas do mês. Eu cobrava ao Abinael referente ao relatório e ele dizia que o Ericksen ia mandar. Sempre vinha uma desculpa diferente do Ericksen, ou que tinha perdido arquivo, ou que estava fazendo relatório e o sistema saiu e ele perdeu tudo. E assim foi por alguns meses, até que eu comecei a botar uma pressão nos dois, precisando do relatório, até que falei que ia a Maceió. No final de junho de 2016, veio a notícia que numa sexta-feira o Abinael teria sumido e ninguém sabia onde ele estava. Na semana seguinte foi aquela confusão toda, a gente tentando saber o que tinha acontecido", lembrou Alexandre.

"Enquanto o Abinael estava desaparecido, eu estava em contato por telefone com o pessoal do escritório. Um dia elas me ligaram e disseram que a polícia esteve no escritório, levou o Ericksen, agenda, computador, celular. Nesse mesmo dia marquei uma passagem e cheguei em Maceió. No dia seguinte cedo estive na delegacia e aí já tinha a notícia que o Ericksen era suspeito de ser mandante de um assassinato. No mesmo dia retornei ao escritório e na gaveta do Ericksen tinham três telefones Iphones novos, em caixas fechadas, tinha nota fiscal e alguns objetos pessoais dele. O que me estranhou foram três telefones caros desses novos na gaveta dele", afirmou o dono da empresa.

Na sequência, foi ouvido o gerente da empresa na cidade de Aracaju, Regivaldo de Jesus Clementino. Ele relatou que foi a última pessoa a falar por telefone com Abinael, antes da vítima desaparecer. "Lembro que era 21h19 e a ligação durou apenas 7 minutos. Estávamos conversando, ele no viva voz e eu no sofá de casa. Conversamos nesse intervalo de tempo, quando ele supostamente parou o carro e disse 'tô vendo o Ericksen aqui. Dá um legal pra ele, ele está vendo você'. E ele [Abinael] falou para mim assim: 'bicho, depois eu te ligo, te ligo já, te ligo já'. Essas foram as últimas palavras do Abinael para mim", relatou Regivaldo.

Irmão se emocionou ao lembrar de Abinael - O irmão de Abinael Saldanha, Wallei Ramos Saldanha, se emocionou ao lembrar dos fatos. "Não tem nem como mensurar a dor, nem só para a família. Todo mundo que o conhecia o amava. A perda dele foi perder um pedaço da gente", disse Wallei.

"Minha mãe é separada e morava com ele e meu irmão mais novo. Abinael era como um pai para os dois", disse o irmão.

Ex-noiva diz que foi apresentada ao Abinael pelo acusado do crime, Ericksen Dowell - A ex-noiva de Abinael, Elainy Kelly Oliveira de Medeiros, falou sobre a relação do noivo com o então amigo Ericksen. "Eles eram amigos. Foi o Ericksen que me apresentou ao Abinael. Pelo que eu sei, sempre foram amigos e nunca tiveram nenhum desentendimento, nem dentro da empresa", disse Kelly. 

Questionada sobre o comportamento de Ericksen, acusado de ser o mandante do crime, Kelly relembrou que o amigo não levantou nenhuma suspeita. "Durante as buscas eu só tive contato com o Ericksen uma ou duas vezes por telefone. Mas ele também ajudou, sem nenhum tipo de suspeita, pelo contrário, até muito preocupado. Teve um culto pedindo a Deus pelo Abinael, e ele também estava presente, orou com as pessoas... Era um comportamento totalmente normal, sem nenhuma suspeita", relatou. 

Kelly afirmou ainda que Abinael Saldanha sempre fazia a mesma rota quando saía da casa dela e que Ericksen sabia dessa rota. Ela destacou ainda o fato de Abinael não possuir bens. "Ele sempre foi muito humilde, não tinha bens. Dois meses antes da morte, ele tinha comprado um carro financiado e morava com a mãe e um irmão em uma casa alugada". 

A ex-noiva se emocionou ao lembrar que o corpo foi achado em estado de decomposição e o caixão teve que ficar fechado durante o velório. "Não tivemos direito a despedidas", disse, entre lágrimas. 

O crime

Abinael Saldanha foi sequestrado e morto no dia 15 de junho de 2016, a mando de Ericksen Dowell, seu amigo e colega de trabalho. As investigações da polícia apontaram que Ericksen tinha interesse em ocupar o cargo de Abinael e estava correndo o risco de ser denunciado por um desvio de R$ 12 mil na empresa em que trabalhavam.

Ericksen, ainda conforme as investigações, contratou Jalves Ferreira, que contratou Deivisson Bulhões da Rosa Santos e Jonathan Barbosa de Oliveira para executar o crime. Abinael foi levado do bairro de Santa Lúcia até uma mata em Rio Largo, onde foi morto com um tiro.

Depois de uma grande campanha da família e amigos para localizá-lo, Abinael foi encontrado, já sem vida, no dia 22 de junho.